Monteiro Lobato em Rede: para entender e compreender um brasileiro que viveu a frente de seu tempo

Monteiro Lobato em Rede: para entender e compreender um brasileiro que viveu a frente de seu tempo

Formado por pesquisadores da obra do escritor taubateano, o grupo de pesquisa “Monteiro Lobato em Rede” existe há mais de 20 anos com diversos outros nomes como “Projeto Memoria de Leitura” e depois “Monteiro Lobato e outros Modernismos Brasileiros”. Boa parte dos integrantes do grupo se conheceu e se vinculou a pesquisa no final dos anos 1990, quando eram orientandos de mestrado ou doutorado da professora Marisa Lajolo mas outros membros ingressaram depois. O grupo foi crescendo, se fortalecendo e hoje o gruo “Monteiro Lobato em Rede é composto por professores e pesquisadores de várias universidades de norte a sul do país formando uma rede virtual de pesquisas lobateanas.

Em 2021, o grupo se formalizou se registrando no diretório de grupos de pesquisa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Fazem parte do grupo, como membros oficiais, as professoras Marisa Lajolo, do Mackenzie e da Unicamp;  Milena Martins, da UFPR; Cilza Bignotto, da UFSCar; Tâmara Abreu, da UFRN; Patrícia Romano, da Unifesspa; Raquel Afonso da Silva, da IFB; Raquel Endalécio Martins, da UFRR; o professor Emerson Tin, da Facamp; e os pesquisadores independentes Luís Camargo e Kátia Chiaradia e tambem alunos dos professores participantes, que desenvolvem projetos de pesquisa sobre a obra de Lobato. Há também os membros honorários, aqueles que não tem vínculo com universidades, mas que colaboram intensamente com o grupo, como é o caso do designer Magno Silveira e do biógrafo Vladimir Sacchetta.

Entre os livros já publicados pelo grupo "Lobato em Rede”, gostaríamos de destacar o livro Monteiro Lobato livro a livro- obra infantil, organizado por Marisa Lajolo e João Ceccantini em 2008. Este livro publicado pela editora Unesp e Imprensa Oficial, recebeu em 2009, dois prêmios Jabuti: o de melhor livro de crítica literária e também de melhor livro de não ficção do ano. Cada capítulo analisa uma obra infantil do escritor, e leva em consideração a história editorial da obra. Já em 2014, a professora Marisa Lajolo organizou o Monteiro Lobato livro a livro - obra adulta publicada pela editora Unesp. Ambas as publicações se tornaram referência para pesquisadores da obra do escritor.


De acordo com a professora Milena Martins, líder do grupo, cada membro do grupo desenvolve e orienta pesquisas específicas sobre Monteiro Lobato, sua obra infantil e sua obra geral, sobre as relações artísticas ou intelectuais entre o escritor e figuras do seu tempo, obras publicadas pelas editoras de Lobato. Esses são alguns temas, apenas para ilustrar, uma vez que a complexidade do universo lobatiano abre um verdadeiro leque de possibilidades para estudos dos mais variados temas.

Milena contou ainda, que o grupo também considera a leitura da obra nos dias atuais. O modo como os leitores de hoje, leem e interpretam uma obra que tem cem anos de vida, e que já foi publicada em tantos formatos distintos, não só em livro, mas também em audiovisual. Esses diferentes suportes promovem diferentes leituras. “O gênero das obras também é parte incontornável das análises. Obras ficcionais precisam ser analisadas como tal, compreendendo os recursos usados, a tradição, as intenções, a ideologia de um tempo. Tudo isso entra em nossas análises”, explicando como o grupo lida com as distorções relativas à obra de Lobato, que têm provocado inclusive atitudes discriminatórias por parte de algumas pessoas. “De modo geral, posso simplificar dizendo que analisamos a obra em relação estreita com seu tempo, compreendendo a literatura e as relações sociais no contexto dos anos 1910-1940, evidenciando os vínculos entre a obra e a sociedade que a produziu, ou entre a obra e os usos literários e linguísticos do seu tempo.”

O trabalho de grupos de pesquisa como o Monteiro Lobato em Rede tem sido fundamental para quebrar essas objeções criadas recentemente, produzindo uma maior compreensão da obra de Monteiro Lobato e do seu tempo, através de um estudo aprofundado e contextualizado sobre o autor. Essa, aliás, é a preciosa colaboração do grupo, que nos ajuda, através do seu trabalho, a conhecer e compreender o universo lobatiano, sendo imprescindível na formação de novos leitores.

Recentemente, o grupo publicou dois livros, intitulados Lobato na Escola (Livros 1 e 2, editora Paulus, 2022) organizados pela professora Milena Martins, em coautoria com Luís Camargo e Kátia Chiaradia. “São roteiros de leitura para a obra infantil e a obra adulta do escritor. Em diálogo com a legislação educacional mais recente, a Base Nacional Comum Curricular, nós apresentamos análises minuciosas de obras infantis e de contos do Lobato, e sugerimos atividades a serem realizadas para uma melhor formação leitora dos estudantes”, explica Milena. Esses livros são um excelente material de apoio a professores e a estudantes de Letras e Pedagogia, mas também servem para leitores que tenham filhos e que se preocupem com a formação leitora de suas crianças, ou que queiram se aprofundar na leitura dos contos do escritor. Esse diálogo com leituras contemporâneas, o envolvimento com a formação de novos leitores, é um dos pontos fortes do grupo Monteiro Lobato em Rede, que tem em seus membros, pessoas que se envolvem com Educação e interessados em ampliar o acesso a bens culturais, promovendo uma compreensão mais complexa da nossa sociedade e da nossa cultura.

Há outros livros muito importantes publicados pelo grupo, como Lendo e escrevendo Lobato (editora Autêntica), de 1999, organizado por Eliane Marta Teixeira Lopes e Maria Cristina Soares de Gouvêa; e a biografia Monteiro Lobato: um brasileiro sob medida, da Marisa Lajolo, também publicado pela editora Moderna, em 2000 alem do livro Quando o carteiro Chegou - livro organizado pela professora Marisa Lajolo e Emerson Tin onde temos uma coletânea de cartões-postais de Lobato para Purezinha. Neste livro há muitas relações entre texto e imagem que parecem nascer nesses postais e se desenvolver em textos e em aquarelas de Lobato. Figuras de autor, Figuras de editor, de Cilza Bignotto, publicada pela Unesp, em 2018, retrata o Lobato editor, mas fala também sobre a história do livro brasileiro. É uma publicação importantíssima para a história da literatura brasileira, por compreender os editores como agentes centrais do sistema literário. Já em 2020, Patrícia Romano publicou Dona Benta: Uma Mediadora no Mundo da Leitura (Editora Appris) e este ano, Magno Silveira acabou de publicar uma edição fac-similar de O Sacy, de 1921, com paratextos de Marisa Lajolo, Cilza Bignotto, Vladimir Sacchetta e do próprio Magno. Além de ser um livro de altíssima qualidade, ele ainda inaugura o trabalho da editora Graphien, um acontecimento editorial de um visionário (Magno) sobre outro visionário (Lobato).

Há outros tantos livros e inúmeros artigos em revistas acadêmicas publicados pelo grupo que são de um valor imensurável, não apenas para entender e compreender esse brasileiro que viveu à frente de seu tempo, mas para enriquecer ainda mais a literatura brasileira.

Para finalizar este artigo, antecipamos que neste momento o grupo Lobato em rede está preparando um livro com análises de alguns contos escolhidos de Monteiro Lobato. Tendo como público-alvo estudantes de graduação, o livro ainda não tem data para sair, mas pelo que pudemos apurar está sendo gestado com todo o carinho.

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Referências:

**Texto produzido a partir de entrevista respondida pela professora Milena Martins.