AS SETE TEMPORADAS DO SITIO

1ª E 2ª TEMPORADAS (2001 e 2002)

A primeira temporada desta nova versão Global do Sítio do Pica-Pau Amarelo, durou do final de 2001 até setembro de 2002 e seus episódios eram extraídos das histórias dos livros de Monteiro Lobato. Quando as histórias se esgotaram teve início uma outra fase do programa, com novas histórias escritas especialmente para a televisão, assim como já havia ocorrido na primeira versão do programa, exibida em 1977.

Mantendo a tradição, a produção dessa segunda versão do Sítio do Pica-Pau Amarelo na TV Globo contou com uma equipe de produção de peso, com nome como Roberto Talma (2001) Márcio Trigo (2001-2002), Roberto Talma (2001-2002) , Pedro Vasconcelos (2001-2002) e
Marcelo Zambelli (2001-2002) na direção e Luciana Sandroni, Mariana Mesquita, Cláudio Lobato e Toni Brandão na redação e adaptação.

Em 2001, cada livro de Lobato era adaptada em cinco dias, as histórias eram contadas em um ritmo mais rápido, com cada livro durando apenas uma semana para ser contado. Excepcionalmente, os episódios ‘O Picapau Amarelo’; ‘Reforma da Natureza; e ‘Histórias Diversas’ levaram duas semanas para ser contados. ‘Memórias do Pica-Pau Amarelo’ durou três semanas e ‘Os Doze Trabalhos de Hércules’, quatro semanas. Já na versão de 1977, as histórias demoravam mais tempo sendo adaptadas para televisão, com alguns textos tirados dos livros e outros criados especialmente para a telinha, que duravam normalmente um mês.

Nessa nova versão do Sítio, alguns elementos dos livros de Lobato puderam ser trazidos de volta para a televisão, como o Pó de Pirlimpimpim, que na versão de 1977 tinha sido transformado em um tipo de "palavra mágica" para evitar comparações com a cocaína. Desse modo, os moradores do Sítio apenas gritavam: "Pirlim Pim Pim" para viajarem de um lugar para outro. Nos livros de Monteiro Lobato, o Pó de Pirlimpimpim era aspirado com o nariz pelos personagens; já na versão de 2001 ele passou a ser um pó jogado em cima das cabeças dos personagens, mais parecido como o "Pó Mágico" da Sininho, da história de Peter Pan. Outra coisa que havia sido censurada na versão dos anos 70, e foi trazida de volta nessa segunda versão Global, é o costume que Emília tem de inventar suas próprias palavras. A censura da década de 1970 não permitia que a Emília da TV alterasse ou falasse palavras da gramática ao seu próprio modo, como: "bissurdo", "arimética" ou "obóvio". 

A segunda temporada teve início em setembro de 2002, com direção de Cininha de Paula e Paulo Ghelli e com episódios escritos por Walcyr Carrasco, com a colaboração de Mário Teixeira e Thelma Guedes. As histórias deixaram de ser exibidas em episódios semanais de cinco capítulos e passaram a ter duração de cerca de um mês. O horário de exibição do programa também foi alterado: o infantil passou para as 10h10.
Novos atores passaram a integrar o elenco como Antonio Calloni, Elizabeth Savala, Henrique Ramiro e Zezé Polessa, entre outros. Além disso, o programa recebia convidados, entre eles os atores Ney Latorraca, Fernanda Rodrigues, Leonardo Brício, Lilia Cabral, Maria Luisa Mendonça, Rodrigo Faro, Samara Felippo, Susana Werner, Márcio Kieling e o humorista Bussunda, que interpretou na trama o gênio da lâmpada de Aladin.


3ª TEMPORADA (2003 e 2004)

Em abril de 2003, o Sítio do Picapau Amarelo estreou sua nova temporada com episódios inéditos e as novas aventuras passaram a ter somente base na obra original de Monteiro Lobato, ainda sob a direção de Cininha de Paula e Paulo Ghelli, mas com Mário Teixeira – até então colaborador de Walcyr Carrasco – na autoria do programa, com a colaboração de Duca Rachid e Alessandro Marson. Novas historias foram escritas  baseadas nos livros de sucesso do momento para os personagens do Sitio. 

Os personagens do Sítio tambem passaram por algumas mudanças no visual. Dona Benta por exemplo, envelheceu um pouco, (agora com cabelos grisalhos), assim como Tio Barnabé (que abandonou seus coletes africanos e adotou um estilo mais caipira).

Tia Nastácia, interpretada por Deu Moraes, mais magra teve de engordar um apouco e por sua vez, ficou mais rechonchuda, enquanto a malvada Cuca sofreu uma transformação radical: ganhou uma enorme cabeleira e roupas novas, além de uns quilos a mais. Após participações em episódios anteriores, os personagens Zé Carijó (Cassiano Carneiro) e Pesadelo (Leandro Léo) passaram a integrar o elenco fixo do programa, e foram também adicionados na abertura da série. 

A turma do Sítio ganhou ainda participação de outros novos personagens em 2003 por conta das novas historias A grande surpresa foi a chegada de Zumpilion (Cosme Monteiro), um animal de estimação extraterrestre.  Ele foi responsável por grandes confusões no sítio de Dona Benta, especialmente por seu apetite voraz. Moby (Raul Gazolla) e Dick (Nelson Freitas), uma dupla de piratas do espaço, comandada pelo vilão Mordoror (Norton Nascimento), entraram em cena em busca do animalzinho; e os investigadores espaciais Alista (Cristina Pereira) e Aníbal (Guilherme Karan) também embarcaram na aventura. Esses personagens integravam o elenco de O Extraterrestre, episódio com dez capítulos que abriu a série de episódios de 2003.


4ª TEMPORADA (2004 e 2005)

Em 2004, a equipe de redatores do Sítio era formada por Mário Teixeira e Duca Rachid e pelos colaboradores Alessandro Marson e Júlio Fisher. A direção continuava sob responsabilidade de Luiz Antonio Pillar, e a direção-geral era de Cininha de Paula e Paulo Ghelli. 
Tivemos grandes mudanças no elenco pois os personagens Pedrinho e Narizinho passaram a ser interpretados, respectivamente, por João Vítor Silva e Caroline Molinari, enquanto a Iara passou a ser interpretada por Lilian Cordeiro. Nessa temporada foi criado o cenário do Arraial dos Tucanos, com a Venda do Elias, a Pensão da Dona Joaninha Pão Doce, a Igreja, a Delegacia, e a casa do Coronel Teodorico passou a ser integrada no Arraial dos Tucanos.

Outra novidade da temporada foi a saída dos personagens centrais do Sítio para cenários fora do Sitio de D. Benta tanto assim que o primeiro episódio de 2004 foi "A Menina da Selva", com cenas gravadas na Amazônia.  

Em "A Dama dos Pés de Cabra", baseada no conto do autor português Alexandre Herculano, a turma embarcou para Portugal, onde gravou cenas em Lisboa e em Sintra. 

O último episódio de 2004, exibido em janeiro de 2005, foi "Dom Quixote", que ficou marcado pela saída de Cândido Damm do papel do Visconde de Sabugosa. No episódio, o Visconde (ainda interpretado por Cândido Damm) acaba esmagado pela estante de livros da biblioteca de Dona Benta, ficando tão fino quanto uma folha de papel. Assim, Tia Nastácia constrói um novo Visconde (a partir daí interpretado por Aramis Trindade). Mas Cândido Damm não saiu imediatamente do programa; ele continuou até o final do episódio, mas interpretando o personagem Dom Quixote.

5ª TEMPORADA (2005)

No dia 4 de abril de 2005, tinha início uma nova temporada do Sítio, mas agora com a mudança de dois atores do elenco principal : Nicete Bruno e Cândido Damm, que interpretavam a Dona Benta e o Visconde de Sabugosa, os dois tiveram que sair do programa e foram substituídos por Suely Franco e Aramis Trindade.

A Dona Benta, que passou a ser vivida por Suely Franco, ficou com uma personalidade mais doce, e recebeu também um novo figurino, passando a usar vestidos e aventais, típicos de uma senhora de idade.

Já o Visconde, agora interpretado por Aramis Trindade, que é conhecido por ser bom de improviso, ganhou uma personalidade mais carismática de sábio meio atrapalhado, e algumas vezes um pouco excêntrico, especialmente quando está inventando alguma máquina, ou pesquisando algo; com isso ele ganhou mais destaque nas histórias. Aramis também deu ao personagem algumas características interessantes, como um forte sotaque paulistano, principalmente quando pronunciava palavras que continham as letras R e L no final. Em 2005, o Visconde também ganhou uma espécie de "bordão" durante o programa, a sua frase: "Ma-ma-mas Marquesa…", que ele sempre diz a cada vez que a Emília o obriga a inventar alguma máquina genial. Esse novo bordão do Visconde na verdade foi um improviso de Aramis Trindade durante as filmagens de uma cena, frase que acabou dando certo, e passou a ser usada quase sempre pelo Visconde perante as ordens da Emília (e sendo imitada até mesmo pelo Zé Carijó e pelo Conselheiro).

Outra novidade nessa temporada, foi que a boneca Emília ganhou uma espécie de "irmã mais nova", a bonequinha de plástico Patty Pop (apelidada pela Emília de 'Pata Choca'), que também tomou a "Pílula Falante" e ganhou vida, deixando Emília morta de ciúmes pela atenção da Narizinho.

Ainda em 2005, a fantasia da Cuca ganhou novas mudanças, ficando mais feia e horripilante, e ganhando uma forma mais parecida com a Cuca do Sítio dos anos 70 (com exceção do fato de que a Cuca de 1977 possuía listras coloridas na barriga, e pequenos olhos vermelhos), a "Cuca de 2005" passou a ser feita de um material de borracha, que a deixava mais realista e assustadora. A roupa de jacaré se tornou mais elaborada e detalhada, dando à personagem um aspeto mais ameaçador, ela ganhou grandes olhos amarelos com pupilas e veias vermelhas; e um focinho mais comprido, com muitos dentes pontudos; ganhou também um "barrigão" listrado, e pés com unhas afiadas, além de uma longa cabeleira loira.

O programa também mudou o seu formato e passando a ser uma novela infantil, com 194 capítulos e uma única história, que durava o ano inteiro.

A proposta do Sítio para a televisão naquele ano, era apresentar uma história que tivesse personagens e elementos da obra de Lobato, junto com temas do dia a dia, importantes para crianças, jovens e adultos; como a importância da escola, a valorização do folclore nacional, que é mostrada, quando a professora Antonica, mãe do Pedrinho, faz uma festa sobre o Dia do Saci na escola do Arraial dos Tucanos, no mesmo ano em que esse dia foi instituído no Brasil.

Houve também uma grande citação em alguns capítulos sobre a alfabetização de pessoas adultas e idosas, quando Zé Carijó decide ir para escola aprender a ler e escrever. A história ainda contava com quase 40 atores no elenco fixo, entre eles Chico Anysio, intérprete do advogado Osvaldo Saraiva que participou como personagem fixo de 2005.

Uma coisa muito interessante sobre essa temporada é que ela não faz parte da linha cronológica de 2001-2004 por vários motivos e dos quais, o mais perceptível é o fato de Dona Benta não acreditar em Saci, Cuca, lobisomens, bruxas, fadas, e Pó de Pirlimpimpim.
Apesar de Dona Benta já ter visto o Saci e a Cuca na sua frente nas temporadas de 2001-2004 (além de ter visto outros seres, e personagens de contos de fadas), na temporada de 2005 ela simplesmente age como se nunca os tivesse visto e nem acredita que são reais, a menos que ela veja como os próprios olhos. Todas as aventuras fantásticas que as crianças contavam, ela acreditava serem apenas brincadeiras fantasiosas. Um outro momento  interessante que ilustra como esta temporada nao faz parte da linha cronológica  é que Miss Sardine (que já havia morrido na temporada de 2001) aparece viva e vivendo fora do Reino das águas Claras.
 
A trama principal daquele ano mostrava os moradores do Sítio, conhecendo dois jovens chamados "Cléo" e "João da Luz", que aparecem pelo "Arraial dos Tucanos", e vão se tornando amigos da turma do Picapau Amarelo, e vivendo aventuras juntos.

Poucos sabem disso, mas, esses dois personagens também foram criados originalmente por Monteiro Lobato, eles apareceram em dois livros diferentes, e foram "pinçados" das histórias de Lobato, para participarem na trama de 2005.

A personagem Cléo, é uma garota que aparece em Caçadas de Pedrinho, descrita no livro como uma radialista da cidade, uma menina "desembaraçada", que costuma trocar cartas com Narizinho, que acompanha o seu programa pelo rádio junto com todo o pessoal do Sítio. Curiosamente existiu mesmo uma Cleo na vida de Lobato, era Cleo Marcondes, filha de um grande amigo de Lobato Octales Marcondes, uma menina incrivelmente inteligente.

A temporada de 2005 ganhou ainda uma nova trilha sonora, com novas músicas para alguns personagens. Como a intenção era agradar tanto as crianças, quanto os jovens e adultos, algumas músicas eram mais "lúdicas", como: "Dona Benta" de Elder Costa, "Emília, faz o que ninguém mais faria" de Pato Fu, e "Sem Medo de Assombração" de Ney Matogrosso, enquanto outras músicas eram voltadas para um público mais adolescente, como a canção "Nós Dois" da banda Jukabala, tema do casal Cléo e João da Luz.

Nessa temporada o Sítio chegou a ganhar o "Prêmio Mídia Q 2005", na categoria de quatro a sete anos, com base numa pesquisa feita com pais de crianças e jovens de quatro a dezessete anos, nas classes A, B e C, sobre a qualidade da programação da TV no Brasil.

6ª TEMPORADA (2006) – 

A sexta temporada teve início em setembro de 2006 mantendo o mesmo formato de novela. Porém desta vez com o objetivo de tratar mais da fantasia e do surreal, sem deixar de lado temas reais, assim como já havia acontecido no ano anterior. 

Nessa temporada mais algumas trocas de atores aconteceram. O ator João Vítor da Silva, que interpretou o Pedrinho entre 2004 e 2006 passou a interpretar o Curupira, dando o papel de Pedrinho a Rodolfo Valente. Caroline Molinari, a Narizinho em 2004 e 2005, foi substituída por Amanda Diniz. A maioria do elenco do núcleo do Arraial dos Tucanos, também foi trocado, sendo mantidos apenas os atores que faziam os personagens principais: Suely Franco como Dona Benta; Dhu Moraes no papel de Tia Nastácia; João Acaiabe como Barnabé; Isabelle Drummond na pele da boneca Emília; e Aramis Trindade como o Visconde de Sabugosa.

Nesta temporada Cininha de Paula deixou a direção do programa para dirigir a novela ‘Cobras & Lagartos, sendo substituída por Carlos Manga, que decidiu reformular totalmente o Sítio do Picapau Amarelo, no intuito de deixa-lo mais parecido com o "Sítio" das histórias de Monteiro Lobato. Com isso alguns personagens tiveram que sair como a bonequinha de plástico Patty Pop e Pesadelo, o ajudante da Cuca, que já não apareceram mais nessa temporada.

Outros personagens sofreram uma grande mudança no visual: Emília ficou com o cabelo mais comprido e passou a usar outros tipos de vestidos. Já o Visconde ganhou um novo figurino, com maquiagem amarela no rosto, um grande nariz de látex e uma cartola feita de palha dourada. O burro Conselheiro, passou a ser uma marionete que andava sobre as suas quatro patas e a cor do seu pelo ficou cinza. O folclórico Saci trocou o seu macacão vermelho por um calção na mesma cor, enquanto o Tio Barnabé ganhou uma barba mais comprida e passou a morar sozinho no meio do mato. 

Outra mudança aconteceu com os objetos usados no Sítio, que ficaram mais rústicos, desaparecendo o forno de microondas, o computador e gameboy. A casa ganhou móveis e aparelhos mais antigos ainda e as histórias dos episódios da televisão passaram a lembrar mais o clima dos livros de Lobato. 

Esse também foi último ano em que a personagem Cuca utilizou a fantasia criada em 2005, já que na próxima temporada, em 2007, a bruxa do Sítio passaria a ser interpretada por uma atriz humana e não mais por um boneco de jacaré.

7ª TEMPORADA (2007)

E Em 2007, Sítio do Picapau Amarelo passou a ser exibido no TV Xuxa programa infantil comandado pela apresentadora Xuxa Meneghel. O programa, estreou na nova programação com a proposta de voltar às histórias originais de Monteiro Lobato. Todas as histórias apresentadas ao longo do ano de 2007 eram baseadas nos textos originais de Monteiro Lobato. A primeira história, O Saci Contra-Ataca, com 25 capítulos, trazia elementos do folclore brasileiro. 
Com direção geral de Carlos Magalhães, foi tomada a arriscada decisão de substituir praticamente o elenco inteiro para a nova temporada. Todos os personagens principais tiveram novos atores. Emília voltou a ser interpretada por uma atriz adulta, Tatyane Goulart; o Saci por Fabrício Bolíveira não era mais careca; Tio Barnabé passou a ser interpretado por Genésio Amadeu ; Dona Benta, passou a ser interpretada pela atriz Bete Mendes e apareceu de cabelos pretos; Tia Nastácia passou a ser interpretada por Rosa Marya Colin; Renato Borghi deu vida ao Seu Elias Turco; e Pedrinho e Narizinho passaram a ser interpretados pelas crianças Vítor Mayer e Rachel de Queiroz.  E o Visconde agora interpretado por Kiko Mascarenhas, ganhou uma maquiagem com muitos grãos de milho pintados no rosto e um paletó fechado.
Nessa temporada o Sítio também ganhou novos figurinos para os atores e os bichos: Rabicó deixou de ser um boneco e passou a ser interpretado por um ator com orelhas e nariz de porco; o Burro Conselheiro passou a ser um burro de verdade, dublado com uma voz humana.

Mas a maior mudança naquele ano, aconteceu com a Cuca. Diferente de todas as adaptações televisivas que já foram feitas com a personagem, a Cuca dessa vez não era mais um boneco de jacaré com cabelo loiro, mas sim a atriz Solange Couto com maquiagem no rosto e dentes pontiagudos, usando um macacão verde.

Infelizmente, com tantas mudanças, essa temporada não manteve o mesmo desempenho no Ibope, e após 165 capítulos divididos em 6 histórias, chegou ao fim com a exibição do seu último episódio no dia 7 de dezembro de 2007. Sem a mesma audiência de anos anteriores, a emissora decidiu pelo cancelamento do programa e a sua retirada da grade de programação.
 

Desmistificando Monteiro Lobato nos 100 anos da Semana de Arte Moderna

No ano do centenário da Semana de Arte Moderna, também chamada de Semana de 22, não poderíamos deixar de fazer uma menção especial ao evento e principalmente desmistificar a história que injustamente insiste colocar o moderno Monteiro Lobato como um antimodernista.

Mas antes de nos aprofundarmos nessa história, até para esclarecer aos mais jovens resumidamente, cabe-nos contextualizar: esse foi um evento de música, dança, poesia e artes plásticas que inaugurou um novo movimento cultural no Brasil chamado de Modernismo, promovido pela elite cafeicultora paulista entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal da cidade de São Paulo.

Autor com reconhecidas características de vanguarda, Monteiro Lobato, apesar de todo o seu regionalismo e da denúncia da realidade brasileira presente em sua obra, acabou injustamente, sendo rotulado como um ‘antimodernista’.
Mas será que um sujeito considerado moderno, visto como alguém à frente do seu tempo por suas ideias e ações, era isso mesmo?

O PRINCÍPIO DE UM EQUÍVOCO HISTÓRICO

O início de todo esse mal-entendido entre o autor de Urupês e o movimento literário chamado Modernista, aconteceu alguns anos antes da Semana de Arte Moderna, em 20 de dezembro de 1917, quando Monteiro Lobato publicou um artigo no jornal O Estado de S. Paulo, intitulado "A Propósito da Exposição Malfatti", mas que distorcidamente passou a ser divulgado e debatido sob o título de "Paranoia ou mistificação?", que na verdade é uma citação que o escritor fez no texto (que pode ser conferido neste link: – arquivo PDF enviado), utilizado para criar um clima de polemica e animosidade entre Lobato e os chamados ‘modernistas’: Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia e Anita Malfatti entre outros.

Nesse texto, o autor de “Urupês” e criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo, que também era crítico de arte e pintor amador, claramente faz uma crítica à artista, após visitar uma exposição individual de Anita, referente à estética de suas obras, fortemente influenciadas pelo que Lobato chamou de "extravagâncias" de Pablo Picasso e seus colegas. Como nacionalista convicto e preocupado em consolidar o conceito de Brasil nação, Lobato em 1917 era, sem vergonha alguma, um crítico voraz da exagerada influência europeia sobre artistas brasileiros e sobre o meio cultural da época. 

Apesar da crítica, Lobato nunca deixou de reconhecer e exaltar o talento artístico de Anita Malfatti, e o faz no mesmo artigo tão polemico.  Na verdade, ele questionava não a inovação contida na artista, mas o estrangeirismo, e por isso, de modo equivocado (ou quem sabe até propositalmente), foi feito um recorte para desqualificar o escritor e colocá-lo como uma figura conservadora, retrógrada e careta, o que a própria história de Lobato nos revela o contrário.

Ao fazer a leitura integral do texto, qualquer leitor desprovido de outros interesses, pode notar claramente que Lobato na verdade, chama atenção para a reprodução acrítica dos valores estéticos das vanguardas europeias. No ano seguinte ao polêmico artigo, através de sua Revista do Brasil, Lobato lança Urupês, livro que décadas mais tarde renderia um comentário bastante interessante do crítico Wilson Martins em A Literatura Brasileira: "poderia ter sido, ou deveria ter sido, o primeiro manifesto modernista".

Urupês é mesmo o reflexo literário do pensamento modernista de Monteiro Lobato. Das suas observações como fazendeiro, ele aprendeu sobre a vida do caboclo brasileiro e forjou o termo "jeca" para criar um dos maiores representantes da nossa cultura multifacetada, com a saude corroida por vermes e absolutamente explorado por interesses economicos. O jeca aparece como natural do interior do Brasil, mas tem sua sabedoria ampliada por essa abstração denominada "cultura nacional": é o embrião da antropofagia modernista vislumbrada nesse personagem, que é uma mistura de várias personalidades brasileiras.

Lobato ofereceu o jeca aos olhos do público e da crítica, um novo caboclo, um herói multifacetado como a cultura brasileira e de costumes antropofágicos, filho de miscigenações e de portugueses degradados, mas o movimento Modernista não teve olhos para reconhecê-lo.

Seu nacionalismo sempre o manteve conectado aos que se interessavam pela questão cultural brasileira. Ainda em sua fazenda, Lobato enumerava admirações por alguns autores que mais tarde se consagrariam na Semana de Arte Moderna, publicando inclusive, vários desses autores em sua revista. Se um equívoco o separou do movimento modernista, esse mesmo equívoco o deixou livre para contestar o que lhe parecia errado no movimento.

Enquanto em texto o autor analisava a identidade nacional (aproximando-se, assim, de umas das principais propostas modernistas), o homem Monteiro Lobato aventurou-se em projetos empresariais no mundo literário. Em 1918, ele comprou a já famosa Revista do Brasil, em que havia publicado contos e críticas. A revista teve vida longa e foi ilustrada por nomes importantes da literatura brasileira.

Seu empreendimento também pode ser visto como modernizador das relações do artista com os negócios. O Estado, até então, era o novo mecenas das artes, e as negociações com editoras eram precárias. Monteiro Lobato fundou sua própria editora e inaugurou uma nova relação do artista com seu negócio. A literatura é vista, assim, como um produto próprio e pronto a ser negociado. Como afirma o escritor e crítico Silviano Santiago, "é através da caracterização do papel social e político do livro entre nós que se pode conhecer, com maior propriedade, o sucesso do projeto elitista e o fracasso do projeto populista dentro dos contornos da estética modernista”. Começou, então, com Monteiro Lobato, a era moderna nas relações autores-editores no Brasil.

PARA OS PRÓPRIOS MODERNISTAS, LOBATO ERA UM DELES

O escritor Oswald de Andrade, um dos principais nomes do movimento modernista, foi pelo mesmo caminho de Monteiro Lobato, quando escreveu o Manifesto Antropofágico.

Esse manifesto literário, publicado em maio de 1928, onze anos depois do famoso artigo de Lobato, tinha o objetivo de repensar a dependência cultural brasileira, demonstrando assim, que não havia contradição entre ele e o escritor.

Dois anos antes, em 1926, Lobato havia escrito um texto chamado ‘Nosso Dualismo’, no qual deixava clara a importância do movimento modernista: “Esta brincadeira de crianças inteligentes, que outra coisa não é tal movimento, vai desempenhar uma função séria em nossas letras. Vai forçar-nos a uma atenta revisão de valores e apressar o abandono de duas coisas a que andamos aferrados: o espírito da literatura francesa e a língua portuguesa de Portugal. Valerá por um 89 duplo — ou por um 7 de setembro”, diz Lobato.

O autor sempre esteve próximo a Oswald de Andrade, que ele próprio considerava uma das mentes mais brilhantes do modernismo brasileiro e sobre o qual afirmou: “…o futurismo apareceu em São Paulo como fruto da displicência de um rapaz rico e arejado de cérebro: Oswald de Andade”, que, como “turista integral, sentiu melhor que ninguém a nossa cristalização mental e empreendeu combatê-la”.

Claramente não houve rompimento radical entre Lobato e os modernistas. O que ocorria é que, ao contrário dos modernistas – que discutiam questões formais e estéticas – Lobato queria modernizar o país no plano da economia e da saúde, por exemplo. Queria modernizar um país arcaico, evidenciando ainda mais assim a sua conexão com o movimento modernista.

Mas voltando a falar de Oswald de Andrade, ele próprio eliminou qualquer embaraço que ainda pudesse existir entre Lobato e os modernistas, no aniversário de 25 anos de “Urupês” com seguinte texto:
“Você foi culpado de não ter a sua merecida parte de leão nas transformações tumultuosas, mas definitivas, que vieram se desdobrando desde a Semana de Arte de 22. Você foi o ‘Gandhi do Modernismo’, jejuou e produziu, quem sabe, nesse e noutros setores, a mais eficaz resistência passiva de que se pode orgulhar uma vocação patriótica (…) Sua luta significava a repulsa ao estrangeirismo afobado de Graça Aranha, às decadências lustrais da Europa pobre, ao esnobismo social que abria os seus salões à Semana”.

Mário de Andrade foi outro que anos mais tarde, ao rever o movimento que integrou, cita Lobato como um dos seus, reconhecendo a importância do escritor em toda aquela novidade:
“O modernismo no Brasil foi uma ruptura, foi um abandono consciente de princípios e de técnicas, foi uma revolta contra a intelligensia nacional. (…) Quanto a dizer que éramos antinacionalistas, é apenas bobagem ridícula. É esquecer todo o movimento regionalista aberto anteriormente pela Revista do Brasil, todo o movimento editorial de Monteiro Lobato”.

De fato, Monteiro Lobato era um grande editor naquela época e reforçando: no ano da Semana de Arte Moderna, editou vários modernistas, comprovando que não se tratava de um opositor ao movimento, mas sim de um interlocutor, alguém que discutia a forma com que o modernismo estava se estabelecendo no nosso país.

Por fim, essa confusão com os modernistas terminou fazendo de Lobato um injustiçado pela história. Mas não se pode negar a sua inestimável contribuição para a literatura brasileira e para o próprio movimento modernista.
 

Em 2001, o Sítio voltou para a tela da Globo

Em julho de 1999, a Rede Globo assinava um contrato com os herdeiros de Monteiro Lobato, para produzir uma nova adaptação para a televisão, baseada na coleção de histórias do Sítio do Picapau Amarelo. Essa nova versão, a segunda da rede Globo, estreou no dia 12 de outubro de 2001, às 11h30, dentro do programa infantil Bambuluá, em edição especial para o Dia das Crianças

A previsão inicial para a reestreia da atração era 15 de outubro, porém havia uma preocupação muito grande por parte da emissora, de que o projeto iniciado há um ano e meio, seria tão bom quanto a edição anterior, exibida com estrondoso sucesso entre 1977 e 1986.

A ideia então foi iniciar a exibição do Sítio do Pica-Pau Amarelo como uma das atrações do programa comandado pela apresentadora Angélica, em episódios de apenas 15 minutos, levados ao ar de segunda à sexta-feira. Nessa primeira fase, a história de um dos livros da série literária escrita por Lobato era dividida em apenas 5 episódios.

Mantendo a tradição, a produção dessa segunda versão do Sítio do Pica-Pau Amarelo na TV Globo contou com uma equipe de produção de peso, com nome como Roberto Talma (2001) e Carlos Manga (2006) na direção de núcleo; Luciana Sandroni, Mariana Mesquita, Cláudio Lobato e Toni Brandão na redação e adaptação; Márcio Trigo (2001); Cininha de Paula e Paulo Ghelli (2002); Carlos Magalhães (2007) na direção geral.

De acordo com Roberto Talma, toda equipe de produção não se preocupava apenas com a audiência da nova atração, mas também com a necessidade da adaptação da famosa obra de Lobato para os dias atuais, sem descaracterizar o original. E assim como na primeira versão, a equipe da nova produção se manteve o mais fiel possível à obra do autor e conseguiu de forma brilhante, aproximar o programa da vida atual, mantendo o aspecto rural presente no original Lobatiano, sem abrir mão de fazer a conexão com as crianças dos grandes centros urbanos.

Entre as inovações apresentadas nessa segunda versão, destaque para a “modernização” do cenário do Sítio, localizado agora na ilha de Guaratiba, no Rio de Janeiro, que contava por exemplo com um computador com acesso à internet e forno microondas. A linguagem dos personagens também foi adaptada de modo a se aproximar da realidade atual sem perder a sua essência, misturando gírias recentes – como “maneiro” e “sinistro” – com expressões usadas na obra de Lobato, como “cara de coruja seca” e “torneirinha de asneiras”.

Para dar vida aos personagens principais, o elenco do Sítio do Pica-Pau Amarelo de 2001 contou com as atrizes Nicette Bruno no papel de Dona Benta, Dhu Morais (ex-integrante do grupo musical As Frenéticas) como Tia Nastácia, e com o ator Cândido Damm na pele do Visconde de Sabugosa.

Entretanto o grande destaque ficou por conta dos personagens infantis: a boneca de pano Emília por exemplo, foi interpretada pela primeira vez por uma criança, a atriz Isabelle Drummond, na época com apenas 7 anos de idade. Anteriormente, em uma adaptação de cinema, também houve uma pequena menina chamada Olga Maria, que interpretou a Emília no filme ‘O Saci’, de 1951, ainda em preto e branco, dirigido por Rodolfo Nani e baseado no livro homônimo, escrito por Monteiro Lobato. Com exceção desse filme, e dessa nova versão do Sítio na Globo, a boneca Emília havia sido interpretada unicamente por atrizes adultas.

Outros destaques infantis foram as atuações da menina Lara Rodrigues no papel de Narizinho, de César Cardadeiro que viveu Pedrinho e o garoto Izak Dahora que deu vida ao nosso Saci Pererê. Esse atores viveram nessa versão do Sítio o seu primeiro grande papel na TV.

O elenco dessa segunda versão, contou ainda com as participações de Jacira Santos como a bruxa Cuca; o amado João Acaiabe como Tio Barnabé; Aline Mendonça vivendo o Marquês de Rabicó); Zé Clayton que deu vida ao Burro Falante e Sidnei Beckencamp como Quindim, além da participação especial de Ary Fontoura vivendo o Coronel Teodorico.

Na área musical mais algumas novidades. A canção original, de Gilberto Gil, foi mantida e passou a conviver com uma nova trilha sonora interpretada por Ivete Sangalo, Carlinhos Brown, os mineiros do Jota Quest e Cássia Eller, que interpretou a música-tema da vilã Cuca.

Com bons índices de audiência, o programa mais uma vez caiu nas graças dos brasileiros, comprovando que os personagens do imaginário Lobatiano continuavam conquistando novas gerações com histórias empolgantes, atuações convincentes e uma excelente produção.

Diante do grande sucesso, a emissora se viu estimulada por seus telespectadores a lançar uma linha de produtos especiais com os personagens do Sítio, como vídeos e DVDs com episódios lançados no natal de 2001, além de bonecas, mochilas, cadernos, álbum de figurinhas, entre outros produtos. Ainda em dezembro daquele ano, a Globo exibiu um especial musical intitulado ‘A Festa da Cuca’, que teve a participação de todos os artistas da nova trilha sonora e de atores convidados, como Malu Mader no papel da Cuca.

A partir do dia 22 de dezembro daquele ano, a segunda versão do Sítio do Pica-Pau Amarelo na Globo, deixou o programa da Angélica e conquistou o seu próprio espaço, sendo exibido de segunda a sexta feira, as 11h30 e depois as 10h10, até 2007.

Essa segunda versão do Sítio na Globo teve um total de sete temporadas exibidas entre os anos de 2001 a 2007.