Da Tupi à Bandeirantes, conheça os principais Pedrinhos das primeiras versões do Sítio para a TV
Depois de um árduo trabalho de pesquisa, que contou com a inestimável colaboração
do amigo e diretor do SBT, Jefferson Cândido, conseguimos identificar os principais atores
que deram vida ao nosso Pedrinho nas primeiras versões do Sítio para a TV.
Este artigo foi atualizado agora em 2023, com novas informações fornecidas pelo
colecionador, pesquisador e administrador da página Memórias do Picapau Amarelo, Luís
Henrique.
Caso você seja um apaixonado pelo Sítio do Pica-Pau Amarelo e também tenha
alguma informação adicional, pode entrar em contato conosco. Toda contribuição informativa
é muito importante para esse resgate e para que a verdadeira história de uma das principais
obras infantis da televisão brasileira não se perca com o tempo.
Sérgio Rosemberg
Aos dez anos de idade, Sérgio Rosemberg já trabalhava no Teatro do Comerciário,
embrião do atual Teatro do SESC Anchieta, na capital paulista. Ele viveu o personagem
Pedrinho na primeira adaptação do Sítio do Pica-Pau Amarelo para a TV, na extinta Tupi de
São Paulo, entre os anos de 1952 a 1953. Sérgio era filho de amigos do casal Júlio Gouveia
e Tatiana Belinky, e antes, já tinha vivido um dos irmãos de Wendy na peça Peter Pan, a
primeira realizada pelo TESP – Teatro Escola de São Paulo.
Sérgio Rosemberg era também um grande admirador da obra dramatúrgica de
Martins Pena, viveu na ribalta o personagem Carlos da peça O Noviço, escrita pelo
teatrólogo carioca, no Século XIX. Ele abandonou a carreira de ator para se tornar médico
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC, em 1965.
Apesar de em 1954 ele já ter saído do Sítio do Picapau Amarelo, é dele a voz no LP
lançado no mesmo ano, interpretando o Pedrinho, pois o ator que interpretava o
personagem estava mudando de voz.
Júlio Simões
O Segundo a viver Pedrinho na adaptação do Sítio do Pica-Pau Amarelo na TV, foi
Júlio Simões, em 1953. Ele era primo de Lúcia Lambertini, a atriz que interpretava a boneca
Emília.
Deixou a televisão e o teatro, que tanto amou, para fazer faculdade de direito. Em
seguida, trabalhou por 40 anos no Cartório de Registro Civil e Tabelionato do Ibirapuera, em
São Paulo, onde chegou à titular.
Apesar do sucesso profissional, longe da vida artística, Julinho Simões nunca
esqueceu as grandes emoções que viveu ao lado dos colegas da TV Tupi.
Hoje, Júlio mora na cidade de Catalão, no interior de Goiás, com sua esposa atual e o
filho Bruno Cesar.
Silvio Lefèvre
Desde menino, Silvio Lefèvre gostava de arte. Foi bastante influenciado por seu avô
materno Benjamin Fineberg, pioneiro de cinema no Brasil, que na época era representante
da empresa americana Metro Goldwin Mayer.
O garoto Silvio era fascinado por cinema e arte, e o pai, o médico neurologista que
atendia Lobato desde o seu primeiro AVC, Antônio Branco Lefèvre era amigo do também
medico psicólogo Júlio Gouveia e de sua esposa Tatiana Belinky, que dirigiam o TESP –
Teatro Escola São Paulo.
Um dia Tatiana, vendo o menino Silvio, com cerca de dez anos, disse: “Esse é o
Pedrinho que eu quero”, e o pai de Silvio não pode dizer não. Assim, após breve teste, ele
assumiu o papel de Pedrinho na TV em 1953 até 1954.
Porém, temendo que a atuação artística prejudicasse os estudos do garoto, os pais
de Sílvio acharam melhor que ele deixasse o programa. Ele conta hoje que ficou muito triste
na época, mas obedeceu. Silvio continuou seus estudos, pensou em ser médico como o pai,
prestou vestibular, entrou na faculdade, mas se interessou por política e foi preso, em 1964,
pela Revolução dos Militares, se refugiando posteriormente em Paris, na França.
Embora tenha deixado o cinema e a TV, Silvio Lefèvre não esconde que sente
saudade e emoção ao lembrar dos amigos do TESP e da pioneira TV Tupi. Hoje morando na
capital paulista, ele é sociólogo formado pela Université de Paris, casado, avô orgulhoso,
editor e livreiro.
David José
David tinha acabado de se mudar para o bairro de Santo Amaro, em São Paulo, onde seus pais foram morar como caseiro em uma Chácara, quando se deparou com vários artistas da TV Tupi, que ali estavam gravando uma externa de novela e ficou encantado. Ele convidou os atores Lia de Aguiar, Dionízio de Azevedo, Heitor de Andrade e Flora Geny para tomar café em sua casa e poucos meses depois, acompanhado de sua mãe, foi apresentado ao casal Tatiana Belinky e Júlio Gouveia, e deles recebeu o convite para atuar em um pequeno papel no seriado As aventuras de Tom Sawer.
Não demorou muito para que ele fosse escolhido para fazer o Pedrinho na adaptação do Sítio do Pica-Pau Amarelo, substituindo Silvio Lefèvre e interpretando esse papel até 1958. Além do Sítio do Pica-Pau Amarelo, fez também o seriado infanto-juvenil Ciranda, Cirandinha, escrito por Vida Alves.
Já adulto, passou a integrar o elenco do Teatro de Arena de São Paulo. Trabalhou em vários filmes, sendo o primeiro deles O Sobrado, com adaptação e direção de Walter George Durst e Cassiano Gabus Mendes.
Morando em São Paulo, casado e com filhos, David escreveu o livro O Espetáculo da Cultura Paulista, onde investiga as raízes da criação artística e da produção cultural na capital do estado, tendo como ponto de partida a inauguração do Teatro Brasileiro de Comédia, em 1948, e a inauguração da PRF3 TV Tupi Difusora, a primeira emissora brasileira de televisão, em 1950.
David conta que ainda hoje se emociona quando alguém na rua o reconhece e o chama de Pedrinho, embora já tenham se passado 40 anos.
André Gouveia
Ele substituiu David José na Tupi de São Paulo, em 1958 e ficou no papel até 1960.
Infelizmente não encontramos qualquer informação sobre André Gouveia na internet.
Nagib Anderáos
Um dos primeiros telespectadores dos programas de Júlio Gouveia e Tatiana Belinky, na TV Tupi de São Paulo, como ele próprio se considera, Nagib fez vários pequenos papeis no teatro e na TV, até substituir André Gouveia (que interpretou o personagem em alguns poucos episódios, em substituição ao David José), no papel de Pedrinho, entre 1958 e 1961. Nagib atuou ainda na segunda versão de Tom Sawyer, também de Júlio Gouveia e Tatiana Belinky, participou do TV de Vanguarda e do TV de Comédia, de Geraldo Vietri. Passou ainda pela TV Excelsior, até largar a vida artística para se tornar engenheiro.
André José Adler
O ator, roteirista, diretor, locutor e comentarista de origem húngara, viveu o personagem Pedrinho na versão carioca do Sítio do Pica-Pau Amarelo, que estreou na TV do Tupi do Rio de Janeiro, em setembro de 1957. Ele ficou no papel por menos de seis e meses porque como estava crescendo muito rápido, precisou ser substituído por um ator bem mais jovem. No ano seguinte, atuou em seu primeiro filme, Pega Ladrão, do diretor italiano Alberto Pieralisi. Posteriormente participou de diversas produções importantes para o cinema e televisão.
Na televisão ele foi para a área esportiva, onde ficou conhecido pelas jornadas na Espn International na década de 1990 e 2000, onde comandava as transmissões do futebol americano direto dos Estados Unidos.
Além de locutor esportivo, André José Adler também foi compositor, diretor de teatro, cinema e televisão, até falecer em 2012, aos 68 anos de idade.
Paulo Benchimol
Substituiu André José Adler na adaptação do Sítio para a TV Tupi do Rio de Janeiro, em 1958 e ficou no papel até o fim do programa na emissora carioca. Infelizmente não encontramos qualquer informação sobre Paulo Benchimol na internet.
Haylton Faria
Quando foi anunciada a nova produção do Sítio na TV Cultura, em 1964, os produtores decidiram fazer um concurso a fim de escolher um ator para o papel do personagem Pedrinho. Apesar do anuncio do concurso ter sido feito do dia para a noite, uma grande fila de mães com seus filhos se formou na sede da emissora para o teste, mas nenhum dos meninos parecia atender as expectativas da atriz Lúcia Lambertini, que na época havia assumido a direção do programa. Até que Lúcia foi então abordada por Haylton Farias, na época com 14 anos de idade, e a espontaneidade do menino surpreendeu a diretora. Resultado: ele foi escolhido para o papel.
Foi assim que ainda muito cedo, Haylton Faria se destacou como astro infantil e formou um currículo artístico respeitável. Ao longo de sua vida artística ele fez teatro, cinema e televisão onde atuou em diversas novelas de sucesso, como Explode Coração, Torre de Babel, Laços de Família e O Clone, entre outras.
Ator, diretor, escritor e produtor, além de psicólogo, Hayton Faria segue na ativa.
Mauro Tach
Ele foi o primeiro ator a viver o personagem Pedrinho na TV Bandeirantes, em 1967, mas infelizmente, assim como aconteceu com outros atores nessa fase, os registros históricos se perderam no grande incêndio que atingiu a emissora em 1969. Também não encontramos nenhuma informação sobre a sua bibliografia.
Roberto Campos
Uma história inusitada marcou a escolha de Roberto Campos para viver o papel de Pedrinho na versão do Sítio na TV Bandeirantes, em 1967. Em março daquele ano, ele foi até a sede da emissora em São Paulo, em busca de um estágio em eletrônica, mas enquanto aguardava para ser atendido, ele foi guiado para uma outra sala, onde foi confundido com as crianças que estavam ali para participar de um teste para o papel de Pedrinho.
O curioso é que entre os participantes, Roberto e mais uma criança (Otavinho) foram selecionados para o teste final. De acordo com o próprio Roberto Campos, os dois não conseguiram desenvolver seus textos na frente do Julio Gouveia, Zodja Pereira e Ewerton de Castro, que eram os avaliadores do teste. Sem que soubessem, Júlio e Ewerton combinaram de deixar as crianças mais à vontade com Zodja e ela então organizou uma improvisação entre eles. Quando Júlio e Ewerton retornaram à sala, uma leve piscadela de Zodja em direção a Roberto Campo, indicou que ele havia sido o escolhido. Por fim, Otavinho também acabou ganhando um papel na adaptação: o do personagem Rabicó. Depois do Sítio, por seu biotipo magro e o rosto jovem, fez várias peças infantis até se apaixonar por sua primeira esposa, Isilda. Vendo que não teria recursos para se casar e ter sua própria família ao lado de sua amada, ele decidiu deixar a vida artística.
Hoje, além de empresário do ramo de informática, Roberto Campos é também terapeuta.
REFERÊNCIAS:
Jefferson Candido (@jeffersoncandido82)
Luís Henrique, colecionador, pesquisador e administrador da página Memórias do Picapau Amarelo (@MemoriasdoPicapauAmarelo)
https://alemdatorrez.wordpress.com/2021/04/05/sitio-do-picapau-amarelo/
https://infantv.com.br/infantv/?p=18316
http://espaconarizinho.blogspot.com/p/narizinho-aristeia-o-sitio-do-picapau.html
http://espaconarizinho.blogspot.com/2010/02/as-narizinhos-da-televisao.html
https://www.youtube.com/watch?v=xSYCYQku9gs
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27156/tde-20052009-165223/publico/
1024815.pdf