A Correspondência entre Monteiro Lobato e Lima Barreto
Dois grandes nomes da Literatura brasileira e dois universos distintos. É fato que Monteiro Lobato e Lima Barreto traçaram suas carreiras em contextos diferentes. No entanto, nosso autor de Taubaté e o escritor carioca, filho de ex-escravos, trocavam figurinhas e se elogiavam.
Apesar de a comunicação ter criado caminhos para uma série de interpretações sobre a relação entre os dois (já que os Correios desviaram diversas correspondências de um para o outro), por muitos anos, eles trocaram cartas, sempre cordiais e recheados de elogios à capacidade crítica e literária de cada um como escritor.
Alguns documentos refletem esta realidade, como as cartas que eles escreviam um ao outro entre 1918 e 1922. Edgard Cavalheiro, um dos biógrafos mais conhecidos de Lobato, por exemplo, lançou o livro “A Correspondência entre Monteiro Lobato e Lima Barreto” e em 1956, a obra “Correspondência”, de Lima Barreto, editada por Francisco de Assis, já trazia também uma série de informações sobre a relação entre os dois. Um destes registros é um artigo que Lobato escreveu em sua Revista do Brasil, em que ele chama Lima Barreto de “criador de uma nova fórmula de romance: o romance de crítica social sem doutrinarismo dogmático”.
O autor teria afirmado que desejava “ardentemente vê-lo entre seus colaboradores”. Depois disso, Lima Barreto se tornou colunista do impresso de Lobato e editou seu romance “Vida e Morte de M. K. Gonzaga” junto à empresa do autor. Posteriormente, Lobato também editou outras obras do escritor carioca, como a segunda edição de “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”.
Em seu artigo para o Homo Literatus, o historiador cultural Joachin Azevedo revelou que outras cartas reunidas por Francisco de Assis Barbosa, biógrafo de Lima Barreto, comprovam que o médico Gastão Cruls confirmou que Monteiro Lobato realmente procurou Barreto no Rio de Janeiro, mas devido à embriaguez do escritor, Lobato não teria tido coragem de se apresentar a quem ele considerava o maior dos romancistas brasileiros. Azevedo constata, então, que Lobato admirava o escritor Lima Barreto, mas não soube aceitar o homem Lima Barreto.
Outros registros do acervo disponível em nosso site revelam que Lobato chegou a enviar cartas oferecendo ajuda financeira para Lima Barreto, pouco antes de ele ser internado e morrer.
A atitude de Lobato é mais uma evidência de que Lobato valorizava o respeito e o talento ao amigo de cartas, que é um grande exemplo.