RACISMO DELIRANTE É TRATAMENTO GROTESCO: MONTEIRO LOBATO MERECE RESPEITO

AUTOR: ANA LÚCIA BRANDÃO

DATA ORIGINAL: FEVEREIRO DE 2021

FONTE: CHUMBO GORDO

CRÉDITOS: https://www.chumbogordo.com.br/37143-racismo-delirante-e-tratamento-grotesco-monteiro-lobato-merece-respeito-por-ana-lucia-brandao/?utm_source=mailpoet&utm_medium=email&utm_campaign=Coluna+Carlos+Brickmann

artigo de Marcelo Coelho na Folha de S. Paulo, classificando Monteiro Lobato como “tremendamente, monstruosamente… escandalosamente racista – um racista delirante” deixou a mim e a todos os estudiosos de sua obra literalmente escandalizados.

Para quem não me conhece, sou especialista em Literatura Infantil e Juvenil, ensaísta, resenhadora  crítica da Bibliografia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil (SMC – PMSP) e do UOL Educação, doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e membro do grupo de Estudos em Cultura e Literatura para Crianças e Jovens da USP. Trabalhei na Biblioteca Infantil Monteiro Lobato por três décadas.

Tenho, pois, a minha vida dedicada a Lobato  e sei que a vida e a obra  deste grande escritor é um verdadeiro jogo de espelhos, que exige muito fôlego e capacidade de discernimento dos que desejem opinar sobre ela ou sobre o escritor. Sugiro aos que desejem se aventurar a conhecer esta vida tão intrigante a leitura da maior e mais completa  biografia já escrita sobre ele, realizada por Edgar Cavalheiro (dois volumes).

Quanto à primeira das duas questões apontadas de maneira extensa e pouco representativa, ao meu ver, no artigo de Marcelo Coelho, para justificar sua acusação de “racismo delirante” em Lobato, tenho a pontuar que a obra “O presidente negro” destoa em muito do restante da obra adulta de Lobato, no geral marcada por contos curtos, incisos e por vezes plenos de humor e ironia. Para completar o quadro trata-se de um romance de ficção científica incipiente, gênero que ele não dominava enquanto escritor.

Através do diálogo de três personagens, Lobato aborda neste livro a questão do racismo, da miscigenação e da eugenia que estavam fortemente em pauta nos Estados Unidos, na década de 20, a ponto de haver ou não pureza racial ser considerado por muitos como a razão para o progresso ou para o atraso de um país.

O livro fez um verdadeiro “Raio X” da questão racial nos Estados Unidos, tão grave a ponto de levar, nesta ficção, a um verdadeiro “choque de raças”, aliás o título original que Lobato deu ao livro.

Porém, ao contrário do que entendeu erroneamente Marcelo Coelho, Lobato não encampa para si, como autor, nenhuma fala racista de qualquer personagem do livro. Apenas expõe, com muita ironia, os argumentos racistas dos personagens. E revelando como a sua visão, como autor, era totalmente contrária ao racismo, no final do livro Lobato antecipa o que seria a grande “vingança” dos negros americanos: a eleição de um presidente negro para os Estados Unidos. Algo tão inimaginável quanto escandaloso para os brancos naquela época, a ponto de Lobato ter datado este sonho no ano de 2228. Lobato anteviu Obama em 2009, errando só na data, antecipada em 219 anos pela história real.

Mais do que um livro em prol da  pureza racial, este romance constrói uma metáfora sobre segregação e aculturação” escreveram Márcia Camargos e Wladimir Sachetta na abertura da reedição do livro, de 2008.

Quanto à carta de Lobato “elogiando” a Ku Klux Kan,  segundo argumento de Marcelo Coelho  para provar “o racismo delirante de Lobato”, ela é uma “única” que aborda esse tema  entre os dois volumes de cartas escolhidas, que vão de cartas escritas entre 1895 a 1948, destinadas a setenta e quatro correspondentes, dentre os quais encontramos parentes, amigos, escritores, médicos, políticos, profissionais técnicos no beneficiamento do Ferro e da prospecção de petróleo, etc.

E esta carta me parece inconsistente frente ao todo de sua saborosa  correspondência.  Importante ressaltar que são volumes com cartas de foro íntimo.  Quem não as tiver escrito, inclusive se auto-ironizando, que atire a primeira pedra. Fosse o tempo de hoje, elogiar a Ku Klux Klan numa rede social, para um intelectual com senso de humor, seria boa resposta, tipo KKK, a  um amigo dizendo que não irá tomar a vacina chinesa “para não virar jacaré”.

Levar ao pé da letra palavras ou frases de uma mensagem pessoal entre amigos, para classificar um deles como “racista” revela uma enorme incompreensão do que significa a crítica literária. Aliás, no prefácio do primeiro volume de cartas, Edgar Cavalheiro aponta que estes dois volumes estão longe de representar um décimo da sua produção no gênero.  Cavalheiro, então, cita Antônio Cândido  – que aponta o gênero  epistolar como raro na produção literária brasileira – e afirma que ”temos um pudor irremediável, um inexplicável  sentimento de inferioridade ante o público”. Cavalheiro termina seu prefácio dizendo: “os volumes que ora incorporamos às “Obras completas” constituem subsídio inestimável para a compreensão do homem e do escritor que ele foi. (..) Nada do grande homem é sonegado nestas cartas”.

Agora é momento de nos concentrarmos na questão do racismo, que vou abordar  sob o ponto de vista estético, literário e do humor, o humor caricatural, do qual o grupo Porta dos Fundos é um grande exemplo atual e do qual Lobato, se descesse numa mesa branca, iria querer assistir e dar suas gargalhadas.

A obra infantil de Monteiro Lobato, que apresenta dezessete volumes, foi ilustrada por vários  artistas. Um deles, a quem Lobato delegou a criação visual de seus personagens, foi Belmonte. Benedito Barros Barreto é o nome deste ilustre homem negro, conhecido como Belmonte, que Lobato convidou para ilustrar sua obra. Belmonte foi um grande chargista e como todo chargista sempre exagerou nos traços das personagens, realçando-lhes ao extremo as suas características físicas a ponto de tirar risadas de seu público com sua crítica mordaz e hilariante.

Gonzalo Junior na sua biografia sobre Belmonte conta como Lobato o incentivou a criar seus próprios personagens infantis, que apareceram na “Folha da Manhã” e se chamavam  Bastinho e Bastião, um branco e outro negro, amigos inseparáveis, que com a ajuda da magia de um saci, partem para as aventuras, na série chamada “As viagens fantásticas de dois garotos”.

Ora, um “racista delirante” nem ao menos dirigiria a sua atenção a um homem como Belmonte, não é mesmo?  Portanto, vale pontuar que entre 1929 e 1937, Belmonte ilustrou cinco livros da saga do Picapau Amarelo.  De Belmonte a Alcy Linnares, Tia Nastácia mantém seus traços. Um caso a se pensar – a força e acalanto da imagem da mulher negra no nosso imaginário.

Como sou literata de formação e atuação profissional, acho necessário apontar a linguagem humorística criada por Lobato para parte de sua obra adulta e para a infantil como um todo. A linguagem criada por ele é prenhe de rebeldia e criatividade inusitadas e utiliza-se largamente de um registro coloquial e tom de oralidade capazes de surpreender até hoje o leitor, por ser lúdica e original ao extremo.

Portanto, a obra infantil de Monteiro Lobato é modernista em essência e justamente por isso, por registrar a oralidade da época em que foi escrita, Lobato hoje é criticado ao extremo.  Ora, entra aí a presença do mediador de leitura, quem lê com a criança, que naturalmente revela o contexto de época do escritor e da obra.

O Sítio do Picapau Amarelo é uma criação que põe em diálogo o universo da cultura oral brasileira representada com maestria por Tia Nastácia, tio Barnabé (com quem Pedrinho e as demais crianças obtém  todo o conhecimento sobre a mata e seus animais e plantas) e claro, o ser mais mágico desse universo oral  que é o Saci. Tia Nastácia é a deusa que criou a boneca Emília e o Visconde de Sabugosa, os dois encantos que vivem as aventuras do sítio e fora dele.

Dona Benta representa a cultura escrita e por vezes formal, sempre rechaçada pela boneca Emília e pela Cultura brasileira como um todo. A riqueza da voz do povo que se exprime por meio da oralidade é de um virtuosismo lingüístico, literário e simbólico muito grande. Já dizia a escritora Sylvia Orthof sobre Tia Nastácia, que a encantou desde criança: “Sempre imaginei Tia Nastácia como uma noite estrelada”.

Se há algo que Emília não suportava era a injustiça. E eu, como Emília, afirmo que Monteiro Lobato não foi um “racista delirante”. Foi um homem do seu tempo, um humanista que realmente realizou o projeto de formar um país de leitores, mas que como toda personalidade ousada e visionária, eternamente provocará impasses e novos questionamentos. Este é o papel de toda obra clássica de uma determinada cultura.

Mas Lobato foi também um homem que foi preso por querer que o governo explorasse suas riquezas e deste modo proporcionasse  educação e bem estar para o povo e que teve a coragem de denunciar a tortura no auge do Estado Novo. Por tudo que representa, Monteiro Lobato tornou-se memória e marca indelével na Cultura brasileira e não merece nem de longe um qualificativo tão injusto e deletério como este de “racista delirante”, colocando, como no “index” da Inquisição,  ele mesmo e toda sua obra, inclusive e especialmente a infantil.

“Vida longa para a obra de Monteiro Lobato!”

É MUITA NOSTALGIA! ESTRELA RELANÇA A BONECA EMÍLIA, DO SÍTIO DO PICAPAU AMARELO, NO CENTENÁRIO DA PERSONAGEM DE MONTEIRO LOBATO

DATA ORIGINAL: 20 DE JANEIRO DE 2021

FONTE: SÃO PAULO PARA CRIANÇAS

CRÉDITOS:https://saopauloparacriancas.com.br/ai-meu-coracao-estrela-lanca-boneca-emilia-do-sitio-do-picapau-amarelo-no-centenario-da-personagem-de-monteiro-lobato/

Para quem já passou dos 30, taí uma notícia cheia de nostalgia que vai aquecer o coração e fazer você voltar para a infância: a boneca Emília, estrela do Sítio do Picapau Amarelo, está de volta! Em homenagem ao centenário de uma das mais marcantes personagens criadas por Monteiro Lobato, a Brinquedos Estrela lança em fevereiro, exclusivamente pelo seu e-commerce, a mais famosa boneca de pano do País!

Isso mesmo! Depois de relançar diversos clássicos que marcaram a infância de muita gente, como o Ferrorama, Moranguinho, Feijãozinho, Falcon, Genius, Tippy, Gui Gui e Autorama (tudo isso você pode comprar aqui!!), a Estrela traz de volta a amada Emília!

O modelo que chega ao site da Estrela em fevereiro é inspirado na primeira versão do brinquedo que a Estrela fez, em 1977, com vestido amarelo, sapatinhos azuis, bracinhos coloridos e cabelo de lã. Veja a comparação dos dois modelos:

 

Apesar de constar apenas no catálogo da Estrela de 1978, a boneca Emilia foi lançada para a semana das crianças de 1977 – a atriz Dirce Migliaccio já fazia muito sucesso na série “Sítio do Picapau Amarelo”, na Rede Globo, desde março de 1977.  Segundo a especialista em bonecas e brinquedos antigos, a colecionadora Ana Caldatto, a Boneca Emília da Estrela foi produzida de 1977 até 1986 – dez anos que fizeram dela uma das bonequinhas de pano mais vendidas da história.

Ela teve diversos modelos – tinha até a Emília Cirandinha, que girava e dançava, a Emilinha, que cabia na palma da mão, e a a Emília versão fofolete. Ano que vem, 2022, a boneca comemora 45 anos de lançamento.

Como surgiu a Emília?

A personagem Emília apareceu pela primeira vez no livro “A Menina do Narizinho Arrebitado”, de 1920. Lobato conta que Emília foi feita por Tia Nastácia de presente para a neta de Dona Benta, Lúcia Encerrabodes de Oliveira, mais conhecida como Narizinho.

Emília é uma boneca de pano, recheada de flor de macela. Nasceu muda, e é graças às “pílulas falantes” do Dr. Caramujo, do Reino das Águas Claras, que ela começa a falar e não parou mais. Sabichona, é conhecida por volta e meia “abrir sua torneirinha de asneiras”, principalmente quando quer explicar algo de difícil explicação ou justificar uma ação ou vontade.

Além de falar muito, também costuma trocar os nomes de coisas ou pessoas por versões com sonoridade semelhante. Aqui em casa o trocadilho preferido é “Dr. Cara de Coruja”, como ela chama o médico que lhe concedeu o dom da fala. Outros engraçadinhos: “borboletograma”, “bissurdo” e  “crocotós”. Para ela um crocotó é algo que a gente não sabe bem o que é. Exemplo: os extraterrestres são crocotós.

Emília é muito engraçada, criativa e geniosa. Diz o que pensa e quando leva bronca, finge que não é com ela. Não teme nada, apronta todas e é cheia de vontades. Encanta crianças há gerações! Aqui em casa estou relendo com meus filhos os livros originais da minha infância e eles estão encantados.

“Eu adoro Emília e, ao escrever os livros nesta máquina, sou o primeiro que me rio das coisinhas que ela diz.” — Monteiro Lobato, em carta de 1934

Há quem acredite que o nome da personagem nada mais era que uma brincadeira entre Lobato e seu amigo, o pedagogo baiano Anísio Teixeira, cuja esposa se chamava Emília. Há outras teorias que consideram Emília como um alter ego do Autor. Com ela Lobato expressava, muitas vezes, suas próprias opiniões que, por contrariarem o senso comum da época foram colocadas na boca de uma criatura cuja índole era irresponsável e que, por ter enchimentos de macela, falava sem pensar.

O sucesso na TV

Além das páginas dos livros de Monteiro Lobato, Emília fez sucesso nas telonas e nas telinhas, onde ganhou vida e desde então emociona gerações de telespectadores. Confira abaixo o panorama que montamos com todas as atrizes que interpretaram Emília, qual sua favorita?

 

A primeira aparição da boneca falante foi no filme “O Saci”, de 1951, dirigido por Rodolfo Nanni. Emília foi interpretada pela a atriz Olga Maria.

1ª Emília - Olga Maria (1951)

1ª Emília – Olga Maria (1951)

O Sítio do Picapau-amarelo foi um dos maiores sucessos da televisão brasileira e teve muitas versões. Na primeira versão, da extinta TV Tupi (de 1951 a 1962), a personagem Emília foi interpretada pela atriz Lúcia Lambertini. Essa adaptação estreou em 03/06/1952, tinha Daniel Filho no papel de Visconde de Sabugosa e só um cenário: a varanda da casa de Dona Benta. Foram 360 episódios e ficou no ar até 1962.

2ª Emília - Lúcia Lambertini (1952 a 1965)

2ª Emília – Lúcia Lambertini (1952 a 1965)

 

2ª Emília - Lúcia Lambertini (1952 a 1965)

2ª Emília – Lúcia Lambertini (1952 a 1965)

Em paralelo à exibição ao vivo em São Paulo, a TV Tupi do Rio de Janeiro exibiu, por dois meses no ano de 1955, uma versão da série com direção de Maurício Sherman e produção de Lúcia Lambertini, a atriz que interpretava a Emília, juntamente com um elenco carioca.

2ª Emília - Lúcia Lambertini (1952 a 1965)

2ª Emília – Lúcia Lambertini (1952 a 1965)

Era um teleteatro, roteirizado pela escritora Tatiana Belinky, exibido na única emissora de TV que existia na época. Lambertini algumas vezes revezava o papel com a atriz Dulce Margarida.

Na segunda versão, da TV Cultura (1964), Lúcia Lambertini comandou a produção, além de viver Emília em 1964 e 1965, mas a série só foi produzida por seis meses. Júlio Gouveia e Tatiana Belinky, responsáveis pela versão do Sítio na TV Tupi, em São Paulo, foram os responsáveis por retomar a série, desta vez na TV Bandeirantes, em 1967. Na nova fase, Emília foi vivida pela atriz Zodja Pereira, até 1969.

3ª Emília - Zodja Pereira (1967 a 1969)

3ª Emília – Zodja Pereira (1967 a 1969)

O Sítio voltou aos cinemas em 1973, e a quarta Emília das telas foi interpretada por Leda Zepellin, no filme O Picapau Amarelo.

4ª Emília - Leda Zepellin (1973)

4ª Emília – Leda Zepellin (1973)

Foi apenas em 1977 que o Sítio do Picapau Amarelo ganhou uma adaptação da Rede Globo, a mais longeva de todos. Dirce Migliaccio foi a primeira Emília (em 1977) e a atriz só ficou no elenco no ano de estreia.

5ª Emília - Dirce Migliaccio (1977)

5ª Emília – Dirce Migliaccio (1977)

Depois, foi a vez da atriz Reny de Oliveira assumir o papel, e talvez ela seja a Emília mais famosa, interpretando nossa amada boneca por cinco lindos anos, de 1978 (quando eu nasci!) a 1983. Dizem nos bastidores que ela foi forçada a abandonar o papel após aceitar um convite para posar nua.

6ª Emília - Reny de Oliveira (1978 a 1982)

6ª Emília – Reny de Oliveira (1978 a 1982)

Ela foi trocada pela atriz Suzana Abranches, que ficou no papel de 1983 a 1986. Depois,  a série foi encerrada, e só voltou às telinhas quinze anos depois.

7ª Emília - Suzana Abranches (1983 a 1986)

7ª Emília – Suzana Abranches (1983 a 1986)

Há exatos vinte anos, a atriz Isabelle Drummond estreava no papel icônico da bonequinha Emília, na Rede Globo. Foi a primeira vez que uma criança interpretou a boneca na TV.

8ª Emília - Isabelle Drummond (2001 a 2006)

8ª Emília – Isabelle Drummond (2001 a 2006)

Ela reinou como Emília de 2001 a 2006, e com sua saída, a atriz Tatyane Goulart assumiu o papel em 2007, último ano de produção da série.

9ª Emília - Tatyane Goulart (2007)

9ª Emília – Tatyane Goulart (2007)

A última Emília de todas, desta vez em versão animada, foi dublada pela atriz Isabella Guarnieri. Ela dublou a personagem de 2012 a 2016.

10ª Emília - Isabella Guarnieri (Voz)

10ª Emília – Isabella Guarnieri (Voz)

Todo mundo quer uma boneca Emília pra chamar de sua

Com a exposição na televisão, Emília tornou-se um grande sucesso comercial. Toda criança queria uma boneca Emília para chamar de sua. Segundo a especialista em bonecas e brinquedos antigos, a colecionadora Ana Caldatto, a primeira versão da boneca Emília foi lançada em 1954 e foi vendida pelas Lojas Mesbla. O lançamento foi um estouro, a boneca chegou de avião da companhia aérea VASP,  acompanhada de uma aeromoça, e em um dia de vendas os estoques esgotaram.

Crédito imagem: Jefferson Candido/Ana Caldatto

“CHEGOU A BONEQUINHA EMÍLIA – 
Em avião de carreira da Vasp, chegou ontem em congonhas, diretamente do Sítio do Pica-pau Amarelo, 
a bonequinha Emília, a famosa Marquesa de Rabicó, de Monteiro Lobato, que tanto sucesso vem fazendo na TV. Emilinha está a disposição da criançada na Mesbla todos os dias das 16 às 17 horas”

A Mesbla comercializou duas versões da boneca Emília, a primeira, baseada na atriz Lúcia Lambertini, da TV Tupi, e depois uma com o figurino da atriz Zodja Pereira, da TV Bandeirantes em 1968.

Lúcia Lambertini, a primeira Emília da TV, com a primeira versão de brinquedo da boneca. Crédito Imagem: Jefferson Candido/Ana Caldatto

Lúcia Lambertini, a primeira Emília da TV, com a primeira versão de brinquedo da boneca. Crédito Imagem: Jefferson Candido/Ana Caldatto

Imagem: Jefferson Candido/Ana Caldatto

Imagem: Jefferson Candido/Ana Caldatto

Imagem: Jefferson Candido/Ana Caldatto

Vitrine das lojas MESBLA de SP em 1954 Imagem: Jefferson Candido/Ana Caldatto

A boneca de vestido branco com pernas listradas é baseada na Emília da atriz Zodja Pereira, na versão da Tv Bandeirantes nos anos 60 - Imagem: Jefferson Candido/Ana Caldatto

A boneca de vestido branco com pernas listradas é baseada na Emília da atriz Zodja Pereira, na versão da Tv Bandeirantes nos anos 60 – Imagem: Jefferson Candido/Ana Caldatto

A primeira boneca da Emília lançada pela Mesbla, de vestido vermelho, e a segunda edição, com a roupa amarelinha. Imagem: Jefferson Candido/Ana Caldatto

A primeira boneca da Emília lançada pela Mesbla, de vestido vermelho, e a segunda edição, com a roupa amarelinha. Imagem: Jefferson Candido/Ana Caldatto

Depois, a boneca teve outras versões, como a Emília de borracha distribuída nas Cestas de Natal Amaral “Fortuna Fartura”, nos anos 60, produzidas pela Brinquedos Estrela.

Imagem: Jefferson Candido/Ana Caldatto

Imagem: Jefferson Candido/Ana Caldatto

Foi só em 1977 que a Estrela lançou sua primeira versão oficial da boneca. Como explicamos acima, apesar de constar apenas no catálogo da Estrela de 1978, a boneca Emilia foi lançada para a semana das crianças de 1977 baseada na atriz Dirce Migliaccio, que interpretava a marquesa de rabicó na série “Sítio do Picapau Amarelo”, na Rede Globo, desde marco de 1977.

Confira a seguir todas as bonecas lançadas, em ordem cronológica. Qual dessas você teve?

 

Se você chegou aqui competou a 8 etapa, parabéns!
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ETAPA ENCERRADA

COMPLEXO DE ‘PERSEGUIÇÃO’

AUTOR: MARCIA CAMARGOS

Depois que a obra de Monteiro Lobato caiu em domínio público, seus livros, alguns deles adaptados, passaram a sair em fornadas. Paralelamente, eclodiram debates acalorados e ataques persistentes, talvez até orquestrados, contra o suposto racismo do criador do Sítio do Picapau Amarelo. Não poucos aproveitaram para surfar na onda e aparecer na mídia. Alguns colunistas também resolveram dar a sua martelada nos pregos de um caixão onde parecem querer, a todo custo, encerrar o escritor, como fez Marilene Filinto no recente artigo de Ilustríssima (7/01).
Ora, a talentosa autora de “As Mulheres de Tijucopapo” afirma que não leu Lobato na infância, enquanto enumera uma série de livros ligados à história da sua terra natal, como se fossem anos luz mais importantes do que as aventuras da turma de Narizinho. Meio como se afirmasse, “olhem como tinha acesso a material de altíssimo nível, não perdi nada em não conhecer Emília ou Tia Nastácia”. Em seguida relata sua experiência com o autor, anos mais tarde, por meio de Jeca Tatu. Pegou antipatia na hora, sem se informar sobre o único personagem que a teria interessado. Porque, se o fizesse, descobriria, sem grandes esforços, que o próprio Lobato chegara às mesmas conclusões do que ela. Ou seja, ele admitiu que o pobre caipira paulista estava longe do indivíduo indolente e preguiçoso que julgou à primeira vista. Ao contrário, era marginalizado, “um excluído, injustiçado, solitário”, pra usar as palavras da articulista. Pois Lobato, que não tinha medo de se corrigir, ao ler as teses dos médicos Belisário Pena e Artur Neiva, reviu suas opiniões sobre o mundo rural, constatando que a apatia do caboclo advinha do subdesenvolvimento, da fome e da falta de infraestrutura básica.
“Está provado que tens no sangue e nas tripas um jardim zoológico da pior espécie”, admite então. “É essa bicharia cruel que te faz papudo, feio, molenga, inerte. Tens culpa disso? Claro que não”.
Marilene Felinto pode não ter mencionado, mas ele foi além, engajando-se nas campanhas sanitaristas e escrevendo, em 1918, uma série de artigos, enfeixados depois em Problema Vital, denunciando a doença do homem da roça e o crime dos que parasitariamente gozavam, na cidade, o fruto da sua incansável labuta.
“A esta hora milhões de verdadeiros patriotas lá estão no eito, porejantes de suor, na faina da limpa e do plantio. Febrentos de maleita, exaustos pelo amarelão, espezinhados pelo ácaro político, lá estão cavando a terra como podem, desajudados de tudo, sem instrução, sem saúde, sem gozo da mais elementar justiça”.
O ápice do menosprezo pelo criador da nossa literatura infanto-juvenil e do mercado editorial brasileiro, porém, dá-se no momento em que a colunista confessa como a sua antipatia aumentou com a leitura do conto Negrinha. Diz que precisou esconder a vontade de chorar quando, na verdade, deveria ter compartilhado o genuíno sentimento de revolta que Lobato suscita em cada um de nós diante daqueles trechos de denúncia nua e crua. Por que não dividir o que sentia pela menina “de criação” com os colegas “branquelos”, filhos de imigrantes pobres, que aportaram em São Paulo em busca de melhores condições de vida? Compreensível que Negrinha represente a sua ancestralidade, mas o sofrimento dela desperta profunda indignação em qualquer ser humano minimamente consciente, qualquer que seja sua etnia, origem, raízes. Talvez ali Felinto não tenha entendido a louvável e necessária atitude de Lobato ao expor, em carne viva, o absurdo de crianças abusadas por uma elite escravocrata, aliada à hipocrisia da Igreja, que ele nunca cansou de criticar. Aquela desgraceira humilhante precisava, sim, ecoar nos corações e mentes dos alunos e professores, para que não se repetisse no futuro como farsa nem tragédia.
Convém lembrar que, no passado, o escritor foi perseguido por suas ideias libertárias, iconoclastas, ousadas. Amargurou meses de prisão no Estado Novo e teve textos de sua autoria queimados nos fornos da ditadura Vargas.
Agora, a julgar pelo ritmo da campanha difamatória em marcha, não tardará o dia em que assistiremos a uma nova fogueira da inquisição ardendo com livros infantis e adultos de Monteiro Lobato.

Escritora com pós-doutorado em História pela USP tem 32 livros publicados. Biógrafa de Monteiro Lobato, uma das curadoras das suas Obras Completas relançadas pela Ed. Globo em 2004, é co-autora de Monteiro Lobato: furacão na Botocúndia, prêmios Jabuti e Livro do Ano pela CBL em 1998.

EXPOSIÇÃO TRAZ LIVROS ESCRITOS E TRADUZIDOS POR MONTEIRO LOBATO

DATA ORIGINAL: 08 DE MAIO DE 2018

FONTE: JORNAL DA USP

CRÉDITOS: https://jornal.usp.br/cultura/exposicao-traz-livros-escritos-e-traduzidos-por-monteiro-lobato/

Uma exposição sobre o escritor Monteiro Lobato faz parte da programação da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP. Gratuita e aberta até 29 de junho, a mostra Monteiro Lobato Sem Fronteiras traz ao público quase 150 livros pertencentes ao Instituto de Estudos Monteiro Lobato (IEMB), localizado na cidade de Taubaté (SP), onde o escritor nasceu em 18 de abril de 1882.

São obras originalmente escritas por ele, traduzidas em outras línguas por tradutores estrangeiros, e livros de escritores estrangeiros traduzidos em português por Lobato. Aos visitantes, serão disponibilizados tablets para consultas de trechos das obras, com acesso a conteúdo digitalizado e interativo. Já os volumes impressos estão dispostos em vitrines, descritos em etiquetas legendadas com informações das edições — país e ano da publicação, nome da editora e do tradutor —, bem como trechos de comentários de Lobato sobre as traduções.

Cristina Antunes – Foto: Jorge Maruta / USP Imagens

Um desses comentários é da sua tradução para Kim, do britânico Rudyard Kipling. A obra de 1901, que apresenta um retrato cultural e social da Índia, foi traduzida por Lobato em 1941, período em que este se encontrava preso pelo Estado Novo de Getúlio Vargas. “Aproveito o tempo traduzindo o Kim, de Kipling — e essa estadia na Índia me fez esquecer completamente a prisão. Pena é que o excesso de visitas me tome tanto o tempo”, escreve Lobato, encarcerado no Presídio de Tiradentes, em São Paulo, mas imerso na Índia de Kipling.

“Essas obras traduzidas são muito raras e pouquíssimo conhecidas do público brasileiro”, conta Vladimir Sacchetta, um dos curadores da mostra, ao mostrar uma edição argentina de Urupês, considerada a mais importante criação literária de Lobato. O livro, publicado há exatos 100 anos no Brasil e que traz em um dos seus 14 contos o personagem Jeca Tatu, foi publicado na Argentina três anos depois, em 1921, a partir da tradução de Benjamin de Garay.

Outro exemplo do acervo mostrado na exposição é Dom Quixote das Crianças (1936), versão infantil de Dom Quixote de La Mancha, escrita pelo espanhol Miguel de Cervantes e lançada em 1605. Como conta Luciano Mizrahi Pereira, diretor do IEMB e também curador da mostra, a obra de Cervantes foi traduzida do espanhol para o português por Lobato, sendo adaptada para o público infantil e depois traduzida para o espanhol. “É um livro que se difundiu na Espanha, na América espanhola e em todos os outros países de língua espanhola. Acho que esse é o ápice de Lobato no exterior”, diz Pereira.

A curadora da BBM Cristina Antunes destaca a riqueza da exposição. “Você vai poder ver dezenas de obras traduzidas por Lobato nas mais diversas línguas: tailandês, chinês, japonês, obras publicadas no Afeganistão e na Holanda. Lobato ultrapassou todas as fronteiras e traduziu tudo o que lhe foi possível”, resume Cristina, em entrevista no programa Via Sampa, da Rádio USP (ouça no link acima).

Versão argentina de Urupês, de Monteiro Lobato, publicada em 1921, e traduções feitas por Lobato de obras do escritor norte-americano Ernest Hemingway e do físico ucraniano George Gamow – Foto: Jorge Maruta / USP Imagens

Sacchetta explica que a seleção das obras e “a construção da narrativa” da mostra foram feitas a partir do acervo reunido pelo IEMB. “Uma narrativa que funciona através de cartas, de artigos em revistas e citações de Lobato e também da difusão geográfica dessas obras.”

“Depois de toda a vida dedicada à literatura, Lobato teve uma obra que se espalhou por si ao redor do mundo”, afirma Pereira, acrescentando que uma das motivações para a realização da exposição na BBM foi “resgatar a história de Lobato, além do que se costuma ver. A obra dele se espalhou no mundo muitos anos após ele ter nos deixado”.

A mostra Monteiro Lobato Sem Fronteiras fica aberta de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 18h30, na Sala Multiuso da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (Rua da Biblioteca, s/n, na Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis.

Para mais informações, ligue (11) 2648-0320 ou acesse o site bbm.usp.br/node/339