MONTEIRO LOBATO E O RACISMO
AUTOR: JUCA DE OLIVEIRA
FONTE: ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS
CRÉDITOS: http://www.academiapaulistadeletras.org.br/artigos.asp?materia=1868
Monteiro Lobato é um dos maiores escritores brasileiros. A ele devemos parte da nossa formação, instigados que fomos por suas reflexões sobre o homem e a sociedade. Através de suas histórias infantis, fábulas contadas por personagens inesquecíveis, ele conseguiu reunir numa família pouco convencional, suscetível à opinião das crianças e favorável ao avanço da sociedade, os elementos fundamentais para a assimilação da nossa evolução social. Em 1916 Lobato enviou uma carta a Godofredo Rangel manifestando a vontade de "vestir à nacional" as fábulas de Esopo e La Fontaine". Isso porque ele já sabia que as crianças guardavam na memória as suas fábulas para reconta-las aos amigos e delas deduzir a respectiva e inestimável lição moral. Portanto separar mecanicamente duas ou três malcriações de Emília comTia Nastácia e delas extrair uma justificativa para o nascimento do racismo entre os brasileiros é uma grande tolice. O radicalismo é fútil e insustentável. As alas radicais têm a tendência de tomar a parte pelo todo, incapazes de analisar o conjunto e generalizar.
Quando fiz o Otelo de Shakespeare em 1982, no Teatro de Cultura Artística, em determinada fase dos ensaios nos preocupou muito a possibilidade de não estarmos examinando corretamente a questão do racismo nessa tragédia. Othello é um general negro e se casa com Desdêmona, branca e filha de Brabâncio, rico senador veneziano. Deveríamos - quem sabe -enfatizar determinadas falas ou fazer alterações no texto a fim de realçar a pele negra do Otelo? Depois de muita discussão, resolvi consultar o grande Jorge Dória, um dos maiores atores brasileiros e grande conhecedor da estrutura dramática de uma peça. Dória me ouviu com atenção e me deu a solução definitiva, que a partir daí passei a usar em todas as minhas incertezas éticas: - "Olha, Juca, quando você tiver alguma dúvida sobre a comportamento da personagem ou o desenvolvimento correto da encenação, pergunte a você mesmo: - "O que é que o Maracanã acha? - ".
Claro, Dória, na sua sabedoria de gênio, estava certo! O público do Maracanã manifesta sempre uma ruidosa opinião sobre os fenômenos sociais. Otelo estava integrado a esse público. Não mexemos em nada, mantivemos o texto integral e o espetáculo se tornou um grande sucesso. É o que sugiro aos radicais do "politicamente correto" na questão Monteiro Lobato: "vocês devem fazer a seguinte pergunta ao Maracanã: - "Maracanã, me responda, devemos proibir Monteiro Lobato nas escolas por suas manifestações racistas? "
E eles irão ouvir do Maracanã lotado um uníssono e ensurdecedor NÃO!!!