OBRA DE MONTEIRO LOBATO CAI EM DOMÍNIO E É ADAPTADA AO SÉCULO 21

Matéria original: Ubiratan Brasil, O Estado de S. Paulo

Desde o dia 1.º de janeiro, a obra de Monteiro Lobato está em domínio público, ou seja, os direitos autorais não mais pertencem exclusivamente aos descendentes. Isso acontece porque a proteção aos direitos é válida por 70 anos e termina a partir do primeiro dia do ano seguinte – como Lobato morreu em 1948, aos 66 anos, os direitos terminaram agora. Assim, é permitida a publicação da obra por qualquer editora, o que já resultou em um plano diversificado de edições (veja no quadro). Dentre todos os projetos, o mais ambicioso foi assumido pelo também escritor Pedro Bandeira, exímio conhecedor da obra lobatiana e que está ambientando para o século 21 as brincadeiras e ensinamentos da turma do Sítio do Picapau Amarelo.

“Minha adaptação protege o talento de Lobato”, assegura. “Autores geniais como Perrault, Andersen, Dumas ou Shakespeare têm sido adaptados sem parar. No caso de Lobato, quase toda sua linguagem e humor devem ser preservados e foi o que fiz. Mas tenho de mexer um pouquinho em detalhes como os xingamentos da Emília. Na época de Lobato, isso poderia parecer engraçado; hoje, porém, é um absurdo. Sua obra não perderá a qualidade se tirarmos, aqui e ali, xingamentos acachapantes como ‘sua negra beiçuda’.”

 

O escritor e ativista Monteiro Lobato (1882-1948)

 

O escritor e ativista Monteiro Lobato (1882-1948) Foto: Acervo Estadão

Acusações de racismo, aliás, vêm figurando em diversas discussões sobre o texto de Lobato, especialmente o direcionado ao público infantil. Bandeira faz uma contextualização. “Em muitos de seus artigos para jornais e em suas cartas, ele demonstrou-se um ardoroso racista, um eugenista de marca maior, um cultor da superioridade dos eurodescendentes. Logo ele, que era baixinho, franzino e feio como a mãe da peste”, diverte-se Pedro Bandeira. “Na primeira metade do século 20, quem negasse diferenças entre africanos, chineses e europeus seria chamado de maluco. Todo mundo acreditava em diferenças raciais, em ‘superioridades’ e ‘inferioridades’, até a ciência. A magia de Lobato, sem seus pequenos deslizes racistas, é imensa e é isso que sonho preservar para as próximas gerações, para que se encantem como eu.”

Pedro Bandeira faz questão de citar um detalhe que passa despercebido: Narizinho tinha a pele negra. Afinal, Lobato a descrevia como “uma menina de 7 anos, com a pele da cor do jambo”. “O jambo é vermelho-escuro, mais escuro que uma ameixa”, observa ele, irritado com a imagem disseminada a partir dos desenhos de Voltolino que, na capa de A Menina do Narizinho Arrebitado, de 1920, cria uma Narizinho “como uma inglesinha gorducha e loura feito uma espiga de trigo”. 

É essa personagem, aliás, que, aos 7 anos, fascina Bandeira, justamente por não ser mais uma criança tampouco uma pré-adolescente. “É uma idade de transição, em que o ser humano é solitário e se alimenta de sua prodigiosa imaginação. Nessa idade, as meninas falam com suas bonecas e elas respondem.” Por outro lado, o escritor não esconde sua antipatia por Pedrinho, o menino que vivia na cidade grande e que passava férias no sítio.

“Acho que Lobato não gostava dos meninos”, comenta Bandeira. “Pedrinho nada traz da vida urbana, nada acrescenta, não fala de tecnologias, de progressos que não existiriam no sítio. Aliás, ele se porta como se sempre tivesse vivido no campo – sabe construir arapucas para passarinhos e vive com seu bodoque a dar ‘botocadas’ a torto e a direito.” Bandeira nota que a postura do personagem é a de um “machinho agressivo”. “Ele chega no sítio e mergulha direto nos sonhos da prima. Nenhuma das aventuras proveem de sua imaginação. Em O Saci, ele é apenas um ouvinte das narrativas folclóricas do menino de uma perna só. Em Caçadas de Pedrinho, o protagonismo o tempo todo é de Emília. Aliás, esse é um livro que eu não ofereceria às crianças.”

Personalidade de múltiplas facetas, movido por sonhos e utopias, Monteiro Lobato era um homem que tomava partido sobre todos os assuntos polêmicos de sua época, defendendo suas posições em cartas e artigos que publicava na imprensa, sobretudo noEstado. Assim, Bandeira engrossa o coro dos que criticam o prazo de 70 anos para o domínio público. “A obra de Lobato estaria tendo uma sobrevida muito melhor se já se pudesse estar mexendo nela há duas ou três décadas.”

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O QUE VEM POR AÍ

Biblioteca Azul. Editora deverá lançar A Chave do Tamanho e O Picapau Amarelo, neste ano

 

Companhia das Letras. Em fevereiro, deve lançar nova edição de Reinações de Narizinho, além da biografia 

juvenil de Monteiro Lobato preparada por Marisa Lajolo e a historiadora Lilia Schwarcz 

 

Editora Moderna. Pedro Bandeira adapta obras do Sítio para o século 21

 

‘Urupês’. Márcia Camargos prepara uma versão para o público jovem do livro de contos

 

Mauricio de Sousa. Desenhista vai lançar o livro Narizinho Arrebitado com a turma da Mônica e adaptação

de Regina Zilberman

 

 

 

BABEL: GLOBO LANÇA TRÊS LIVROS DE MONTEIRO LOBATO ANTES DO DOMÍNIO PÚBLICO

Matéria original:

Maria Fernanda Rodrigues, O Estado de S. Paulo

REEDIÇÃO
Globo lança três livros de Monteiro Lobato antes do domínio público

Depois de anos de brigas entre os herdeiros de Monteiro Lobato e a editora Brasiliense, que publicava suas obras, a família ganhou e levou, em 2007, 56 títulos do autor para a Globo. Até o dia 31/12, a casa tem exclusividade sobre a obra do criador do Sítio do Picapau Amarelo. Na virada do ano, com Lobato entrando em domínio público, algo muito aguardado pelo mercado editorial, qualquer editora vai poder publicar seus títulos. Para aproveitar os últimos momentos do reinado, a Globo, por meio do selo Biblioteca Azul, manda para as livrarias uma edição de luxo de Viagem ao Céu, publicado em 1932, com ilustrações originais de quatro artistas (acima, de J. U. Campos). Outros dois serão lançados até o fim do ano: A Reforma da Natureza e Urupês.

NÃO FICÇÃO – 1
Livros de guerra
Por falar em 1932, a Panda Books lança, só em dezembro, um livro sobre a Revolução de 1932 – seus 86 anos serão lembrados na segunda-feira, 9.
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O autor, Ricardo Della Rosa, é publicitário, neto de dois ex-combatentes e um dos maiores colecionares do assunto. A obra traz o histórico do movimento armado, descreve as diferentes frentes de mobilização e mostra seu legado. E traz fotos, documentos, cartazes de propaganda, cartas, mapas e itens inéditos da coleção do autor. A edição será de luxo, para colecionadores, e sairá pelo selo Livros de Guerra.

NÃO FICÇÃO – 2
Israel e Palestina
A Boitempo publica, em setembro, A Palestina Nos Livros Escolares Israelenses: Ideologia e Propaganda na Educação, da israelense Nurit Peled-Elhanan. Professora da Faculdade de Educação da The Hebrew University of Jerusalem, ela perdeu a filha em um atentado terrorista suicida de um palestino e seus filhos, no exército na época, foram pressionados a vingar sua morte.
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Ela decidiu analisar os elementos ideológicos da representação palestina em livros didáticos israelenses nas áreas de geografia, história e estudos cívicos. Para ela, os conteúdos legitimam a exclusão e a discriminação de palestinos e preparam as crianças para o serviço militar obrigatório.

FICÇÃO – 1
De outros tempos
Uma das principais autoras de romance de época, a americana Julia Quinn lança em agosto, no Brasil, o best-seller Uma Dama Fora dos Padrões. É o primeiro de sua nova série Os Rokesbys, saga que antecede a popular Os Bridgertons. No catálogo da Arqueiro desde 2013, ela já soma 900 mil exemplares vendidos no Brasil – e 10 milhões no mundo.

FICÇÃO – 2
Trilogia + 1
FML Pepper, autora da série Não Pare! (60 mil exemplares e 66 mil e-books vendidos e 3 milhões de leituras no Kindle Unlimited), lança na Bienal Máscaras: Histórias da Trilogia Não Pare!. Pepper foi a primeira brasileira a ter um contrato híbrido: ela autopublica o digital e a Valentina cuida do livro físico.

POESIA
Sonetos escolhidos
A Editora da Unicamp está lançando 20 Sonetos, de Luís de Camões, em edição comentada pela professora Sheila Hue.

EVENTO FRANCÊS VAI DISCUTIR O FUTURO DA EUROPA E ANALISAR OBRA DE LOBATO

Matéria original:  

Ubiratan Brasil, O Estado de S. Paulo

A escritora e pesquisadora Márcia Camargos fala sobre Monteiro Lobato (1882-1948) nesta sexta, 15, no Salão do Livro de Paris. A partir das 17h (13h de Brasília), a pesquisadora fará uma apresentação sobre o escritor brasileiro, cuja obra caiu em domínio público neste ano. No evento, Camargos vai analisar qual o lugar do negro na obra de Lobato. “Foram traduzidos para o francês alguns textos: uma das primeiras e últimas cartas de A Barca de Gleyre, além de Oblivion, de Cidades Mortas e Negrinha. Também lerei um trecho traduzido de Reinações de Narizinho”, diz a pesquisadora, que divide a mesa com Rodrigo Lacerda.

Esse será apenas um dos diversos eventos do Salão que, neste ano, celebra a Europa. Isso porque, em maio, cidadãos dos 28 países-membros da União Europeia vão votar para escolher a Europa do futuro. “Os desafios que a Europa enfrenta nos próximos anos são numerosos”, dizem os organizadores do Salão, em comunicado oficial. “O continente deve olhar para o seu futuro e consolidar uma base comum para construir um modelo sustentável.”

Assim, a programação foi montada seguindo esse raciocínio. Autores cuja obra contribuem para esse debate estarão presentes nos encontros, que acontecem até segunda, 18, com nomes como o espanhol Javier Cercas, o italiano Erri de Luca e o filósofo alemão Peter Sloterdijk.

HÁ 6 ANOS PROJETO LEVA ALEGRIA E SUPLEMENTO PARA CRIANÇAS EM TRATAMENTO NA SANTA CASA E OUTROS HOSPITAIS

Matéria original do site O bom da Notícia

O projeto das Emílias, oriundo da Companhia do Sorriso de Mato Grosso, formado apenas por voluntários, há 6 anos leva alegria e esperança para crianças portadoras de doenças graves, como o câncer, e que estão em fase de tratamento. Alguns desses pequenos internados na Santa Casa de Cuiabá, correm o risco não ser mais atendidos, por conta do fechamento da unidade anunciado na segunda-feira (11).

Membro titular do projeto, a ex-corretora de seguros Carla Soler, fala com “amor” da causa, que comercializa bonecas Emílias – alusivo a personagem do Sítio do Pica-pau Amarelo – com objetivo de ajudar famílias de crianças carentes, por meio da entrega do suplemento alimentar Ensure. O produto que tem custo elevado é consumido pelas crianças que estão em tratamento.

“Uma pessoa para ser voluntária é preciso muita coisa. Tem que trabalhar por amor, porque é um trabalho muito sofrido. A gente sai à noite nas ruas para vender as bonecas, muitas vezes as pessoas que já compraram falam assim: ‘nossa, mas eu já tenho uma coleção’. Então precisa ter autoridade para fazer isso”, explicou Carla.

Durante o dia, os voluntários fazem a visitação nos hospitais. O papel do voluntário além de atuar como ambulante, é fazer com que os pacientes se sintam mais esperançosos, dando amor e carinho. O momento de dor é transformado em alegria com a atuação desses voluntários vestidos de Emília.

O projeto não tem fins lucrativos. A ideia é vender as bonecas para angariar recursos para compra de ao menos três ou quatro caixas do suplemento por semana. No mercado, cada lata de Ensure de 900 gramas, custa R$100. No entanto, além de arcar com as despesas dos produtos, o Emílias oferece uma ajuda de custo para os voluntários, que deixam suas casas, muitas vezes abandonam a profissão, como o caso da ex-corretora Carla, para viver em benefício da comunidade.

“Eu trabalhava como corretora no banco do Bradesco. Tinha uma profissão. Hoje eu não consigo mais conciliar essas duas atividades, porque o projeto precisa quase que 100% do meu empenho. Além disso, tenho casa, filhos, marido e uma série de particularidades para gerenciar. Mas eu não terei coragem jamais de dizer não a essas famílias. Faço tudo por amor, voluntariado. A gente não ganha nem um real dentro do hospital, é um trabalho feito por amor. Já o trabalho de Emília a gente ganha uma gratificação, esse é o meu sustento”, contou a reportagem.

Carla enfatizou que está acompanhando a situação da Santa Casa de Cuiabá. Ela frisa que muitas mães estão preocupadas, com medo de serem despejadas. Por isso, o trabalho dos profissionais que compõe o projeto tem sido dobrado, para que esses pacientes, não sofram ainda mais em virtude das mudanças.

Desde a sua criação, em 2013, o Emílias sobrevive de doações e de recursos próprios. Para ajudar nessa causa, o interessado pode estar entrando em contato por meio dos telefone (65) 9 9297-6012 ou através da página no Facebook. Lá também estão disponíveis maiores informações.

Santa Casa fechada

A Santa Casa de Cuiabá suspendeu as atividades na última segunda-feira (11). A direção alega a falta de recursos para urgência e emergência na ordem de R$ 3,6 milhões que, deveriam ter sido repassados pela Prefeitura Municipal.

Devido a isso, os atendimentos em praticamente todos os setores da unidade foram suspensos, inclusive do Sistema Único de Saúde.

Conforme apurou O Bom da Notícia, a unidade segue apenas atendendo pacientes internados, em fase hemodiálise, e em tratamento de câncer.

Por: Karollen Nadeska, da Redação

NO SALÃO DE PARIS, PESQUISADORA ANALISA O LUGAR DO NEGRO NA OBRA DE LOBATO

Materia original do site Terra

Devido ao seu poder transformador, literatura é abismo. A máxima de Antonio Candido cabe como uma luva em Lobato. Tanto na sua produção para adultos, quanto no Sítio do Picapau Amarelo, ele subverte a ordem e questiona princípios. Da invenção do Jeca Tatu, que desmistifica o caipira romantizado, à quebra de hierarquia na república feminista e libertária de Dona Benta, os conceitos são impiedosamente sacudidos.

Agora que sua obra caiu em domínio público, com livros impressos às fornadas, ressurge a polêmica do suposto racismo permeando seus textos. Uns abordam as incursões pela eugenia, perceptível no único romance saído da sua pena. Outros citam os famosos adjetivos usados por Emília, que chama Tia Nastácia de "negra beiçuda". Indício de preconceito?

Ora, conhecemos o caráter provocativo da boneca, que desacata filósofos, cientistas e, às vezes, inclusive a própria avó. Feita de pano, extrai o melhor dos dois mundos, usufruindo as vantagens dos humanos, sem os compromissos da vida real. Longe de desqualificar a cozinheira, sua falas, verossímeis para a época, são um recurso estético necessário numa narrativa fincada na oralidade e na linguagem coloquial. Além disso, ao resgatar as origens africanas de Nastácia, Lobato valoriza seu papel na cultura brasileira. Ao lado de Tio Barnabé, ela incorpora o viés popular, o saber empírico, as tradições ancestrais. É com este repertório que Nastácia, empoderada, salva-se até das garras do Minotauro. Saciado graças aos seus célebres bolinhos, o monstro desiste de comer gente. Aliás, não podemos esquecer que, de suas mãos mágicas, nasceu a irreverente Emília.

Quanto ao Presidente Negro, ficção científica inspirada em H. G. Wells, também pairam suspeitas de racismo. Os Estados Unidos, que Lobato ainda não visitara, é o núcleo do enredo. Pelas lentes do porviroscópio, viajamos ao ano de 2228, quando a escolha do 88.º presidente divide os eleitores. Emerge então um Lobato provocativo, que rema na contramão do politicamente correto. Ele abraçou as teses difundidas entre a intelectualidade nacional por Renato Kehl, que trocou cartas com o escritor e cujo livro, Problema Vital, de 1919, ele prefaciou. No entanto, mesmo neste embate, Lobato surpreende, ao dar voz ao oprimido. Prestes a apoiar um dos candidatos, o protagonista relembra as humilhações sofridas pelo seu povo: "Viu, muito longe, esfumado pela bruma dos séculos, o humilde kaal africano visado pelo feroz negreiro branco, que em frágeis brigues vinha por cima das ondas qual espuma venenosa do oceano". E recordou o suplício da travessia. A fome, a sede, a doença, o sangue derramado. Acima do convés do tumbeiro, rumores de vozes: "Branco queria dizer uma coisa só: crueldade fria….".

A trama cresce quando o herói resolve, ele próprio, concorrer à Casa Branca. Suas chances de vitória levam os antigos adversários a unirem-se num complô maquiavélico, urdindo uma manobra "científico-ideológica" de consequências devastadoras. Ao longo da história, a comunidade negra é impelida a assumir a fisionomia dos brancos. E Lobato, opositor visceral da imitação, defendia que ignorar as raízes significava converter-se em cópia malsucedida. Ou seja, ao abrir mão das suas características étnicas, o negro, fragilizado, tornava-se vulnerável às manipulações. Assim, em lugar de fazer apologia da pureza racial, o autor constrói uma metáfora sobre segregação e aculturação, retratando a sociedade norte-americana do período, distante da democracia racial depois conquistada, após o árduo processo de luta pelos direitos civis.

Já em terras tupiniquins, a denúncia da mentalidade escravocrata, que persistia entre as elites nostálgicas, explode com violência em Negrinha. O mais pungente conto do volume lançado em 1923, ao qual dá o título, o drama da órfã desamparada, vítima da senhora frustrada pela abolição, revela seu traço de crítico social. Nele, Lobato expõe a perversidade da patroa, endossada pela hipocrisia do vigário. De um lado, a virtuosa dama, esteio da religião e da moral, "gorda, rica, dona do mundo, animada dos padres, com lugar certo na Igreja e camarote de luxo no céu". Do outro, a criança indefesa, "magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados". Negrinha é submetida a surras, roda de tapas e à vara de marmelo flexível, cortante, para "doer fininho".

Afinal, não se pode negar que Lobato flertou com o eugenismo, mas o fez da mesma forma como apreciava Le Bon, antes de descobrir Nietzsche, e como encantou-se pelo fordismo, espiritismo ou comunismo. Não era um feixe coeso de ideias e atitudes, mas, antes, um espírito inquieto, atravessado de incoerências e contradições. Contudo, sem meias-tintas, sua obra arranca o leitor da zona de conforto, trazendo a questão da negritude e do racismo para a pauta do dia. Instigante, convida ao debate atual e urgente no País.

MÁRCIA CAMARGOS É ESCRITORA E PESQUISADORA